23 de dezembro de 2003

Não convém julgar as coisas pela aparência

P: A literatura «light» desvia as pessoas de reflexões mais profundas?

R: Tenho dificuldade em dizer onde começa e termina o literário. Quando se fala de literatura light, fala-se de obras que em vez de questionarem os sentidos da humanidade aceitam o que está aceite apenas para contar uma história; é a utilização da literatura como divertimento no sentido mais restrito.

Lídia Jorge – Entrevista por Maria Augusta Silva


P: Escrever, se não ajuda a mudar o mundo, pelo menos exorciza certos fantasmas. Sobretudo neste caos em que vivemos actualmente. Concorda?

R: A literatura não tem força, infelizmente, para mudar o mundo. Mas penso que, embora numa pequena escala, que é a escala individual, escrever talvez ajude a mudar alguma coisa. Em primeiro lugar, modifica seguramente aquele que escreve, tornando-o mais consciente de si próprio e daquilo que o rodeia. E depois é o leitor que é convidado (ou arrastado) a fazer o mesmo percurso, seguindo os mesmos passos. O nosso grau de conhecimento do mundo e da vida está relacionado com o número de livros que assimilámos. Acredito que a maioria das pessoas seriam intelectual e humanamente mais ricas se lessem mais um pouco.

Teolinda Gersão – Seixo Review, Artes e Letras


P - Será uma visão feminista?

R - Estou me nas tintas... que o chamem. Eu sou uma mulher e falo de mulheres, então eu sou feminista? É simplesmente conversa de mulher para mulher, não é para reivindicar nada, nem exigir direitos disto ou daquilo, porque as mulheres têm um mundo só delas e é isso que eu escrevi, e espero que isso não traga nenhum tipo de problemas, porque há ainda pessoas que não estão habituadas e não conseguem ver as coisas com isenção.
O livro tem uma mensagem escondida: as mulheres, de mãos dadas, podem melhorar o seu mundo - foi o que aconteceu ao longo da história. Fizeram das diferenças um mosaico belo e melhoraram as suas vidas.


Paulina Chiziane – Entrevista concedida a Rogério Manjate


Sou muito pouco participante das idéias feministas, desse provincianismo feminista que existe e que se desenvolve por toda a parte, hoje. Considero a mulher um ser muito mais invulnerável que o homem, o homem é muito mais vulnerável.

Agustina Bessa Luís – Entrevista concedida a Artur Portela, citada aqui

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