18 de outubro de 2003

Vi ontem duas coisas fantásticas no canal Odisseia (que tal como o Discovery é um canal de muitas coisas maravilhosas). Vou contar.

Vi um caso de um feto não sei onde. O feto tinha um quisto enorme a sair das nádegas, começado no fim da coluna. O feto tinha cerca de 30 centímetros de comprimento e o tumor era quase do tamanho de uma bola de rugby. Preso ao rabito dele. Então a intervenção dos médicos foi fazer um corte na barriga da mãe e virar o rabo do feto para o buraco para lhe cortarem aquela coisa que lhe estava a sugar o sangue do corpo e a enfraquecer o coração. E foi, mas a criança perdeu o pulso, depois de retirado o tumor, e durante 20 minutos o médico tentou reanimar a criatura apertando peito com um coração mais pequeno que uma uva entre o dedo indicador e o polegar. Exactamente como se apertasse ligeiramente uma uva, muito repetidamente durante 20 minutos que provavelmente pareceram nunca mais acabar. Voltaram a inserir a criança correctamente posicionada na barriga da mãe e esta foi cosida, todos com medo de possíveis lesões cerebrais do feto. Nada. A cada dia que passava na barriga da mãe, mais hipóteses de sobrevivência tinha o feto, até que nasceu saudável e, ao que parece, muito cheio de vida. Cheia! Era uma menina. Nasceu duas vezes, numa das quais morreu durante 20 minutos. Dá que pensar. Por onde seguirá esta vida? Não vos parece um desperdício que seja mais uma que passa despercebida entre tantas outras? Não vos parece um desperdício que se misture na maldade infantil, nas manias adolescentes, nos problemas dos crescidos?

Não interessa. Nasceu duas vezes, morreu uma, ainda irá morrer a segunda. E se os vossos pais vos tivessem contado esta história sendo vossa, que fariam da vossa vida? Dá que pensar... não sei bem porquê.

(Bonito ver a mãozinha da menina cá fora como à procura de onde se agarrar)

O outro caso conto amanhã. Quero ir para a cama ler.

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