8 de agosto de 2003

Cachaça, Gírias e Mortes

Teresinha de Jesus, muito grato pelas cervejas virtuais. Hei-de entornar uma em tua intenção. Se fosse cachaça, derrubava um tantinho no chão. Pro santo, como se diz, ou pra santa: Santa Teresa dos Descervejados. Mas a cachaça dá um calor danado. Misturada com vermute (os finos) ou com licor de alcachofras (os bárbaros), a cachaça rende um belo rabo-de-galo. Curitda por seis meses dentro de um coco, fica deliciosa. Misturada com sumo de limão ou de abacaxi, rende a caipirinha. E pura rende porres tremendos, geralmente tristíssimos: o encachaçado é mestre em lamuriar-se, e chamar a qualquer poste elétrico de amigão.

Paulo Coelho é mestre no que o Lobato chamava de "livro pau": lê-lo é como levar uma paulada na cabeça, adormece-se instantaneamente. Prozac em letrinhas.

Gasel, se você quer exemplos de rebuscamento daqueles que nem o João de Barros seria capaz, precisa ler os despachos dos delegados de polícia daqui. O diabo é que eles vêm a mim e dizem: Orlandão, você que é professor, veja aí se está tudo certinho. E toco eu a ler tijolos verbais do quilate de "indigitado", "como sói acontecer", "via de regra", "outrossim", "eis que" (fumaças bíblicas), "o ora requerente", "consubstanciado", "propedeuta", "o nobre causídico", "dar azo", "supedâneo" e outras tais. Isso quando não vêm de dura lex...

Pois borregar, então, é balir? Aqui o meu dicionário Houaiss traz a conjugação, mas, esquisitamente, não dá a acepção. Certamente porque é eletrônico e pirata. E SPC, aqui, é o temidíssimo Serviço de Proteção ao Crédito: entrar na lista negra dele é ficar impedido de comprar qualquer coisa no crediário; é ter o chamado "nome sujo". E dar à sola é certamente o mesmo que dar às de Vila Diogo (eu tenho o poeminha em algum canto), o que chamamos de se mandar, picar a mula ou simplesmente vazar, isto é, fugir? Já vês que o idioma é quase o mesmo... :)

E Ni, você não é a primeira que elogia o Peixoto. Preciso dar um jeito de o ler, sei lá como.

A respeito de mortos, morreu aqui o Roberto Marinho. É como se, na Inglaterra, morresse o Rupert Murdoch; ou como se fôssemos americanos dos anos 40 e morresse o Randolph Hearst; ou como se fôssemos italianos e morresse o Berlusconi (supondo que Berlusconi não fosse chefe de estado). Era o fundador e o dono da Globo. Tinha 98 anos e ainda mandava. Agora, claro, vai dar um jeito de se meter na gestão do undiscovered country de que falava o Hamlet.

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