22 de abril de 2016



a will rogers highway é pouco conhecida como tal.
mas é também a (essa sim) famosa route 66
e normalmente esta canção não entra nas compilações sobre essa estrada. 
will rogers foi um descendente de nativos americanos que se tornou um politico destacado do partido democrata (chegou a participar nas primárias na década de 20) e, pelo meio, realizador de muitos filmes, director de muitos jornais, actor de muitos géneros e tudo e mais alguma coisa...
will rogers é dos primeiros (descendentes de) nativos americanos a não ser tratado como tal e mesmo tendo nascido numa reserva índia é reconhecido como 'o elhor filho de oklahoma.
a ele se atribui a frase: 'todos as pessoas são ignorantes, mas em assuntos diferentes'

woody guthrie, que também escreveu sobre tudo e mais alguma coisa, dedicou esta canção ao seu conterrâneo

woody guthrie, will rogers highway

20 de abril de 2016


a 20 de abril de 1914, faz hoje 102 anos..
os mineiros de carvão do colorado estavam em greve.
a greve, organizada contra a fuel & iron company (da família rockfeller), a rocky mountain fuel company e a victor-american fuel company, procurava melhorar as condições de insegurança, e os salários miseráveis, num negócio que dava lucros elevadíssimos com a construção do caminho de ferro.
concentrados num acampamento na cidade de tendas de ludlow, os mineiros foram atacados pela guarda nacional do colorado e um conjunto de 'detectives' da baldwin–felts detective agency (um bando de arruaceiros especializados em combater grevistas que entravam nas tendas a disparar indiscriminadamente).
até ao final desse ano, a colorado coalfield war continuou a produzir mortes, até a completa aniquilação da luta dos mineiros pelos seus direitos, que ficaram ainda mais reduzidos em consequência da derrota.

woody guthrie, ludlow massacre

19 de abril de 2016

O jardim do Príncipe Real em 'A Cavalo no Diabo'


“Se há jardim de Lisboa que me dê gosto maior é o do Príncipe Real. Primeiro, por causa da árvore-mãe que tem ao centro, baixinha e de ventre antigo, e de ramagem tão extensa que dá abrigo a meio mundo. Depois, porque o conheci rodeado de poetas, uns em verso, outros em prosa: O’Neill morou-lhe quase em frente, na Rua da Escola Politécnica, Vieira de Almeida mesmo ao lado. Ruy Cinatti na Rua da Palmeira e Agostinho da Silva na Travessa do Abarracamento de Peniche, que é um recanto pacífico para meditar. Isso para não falar já do poeta real que se chamava Mendonça e que nunca escreveu coisíssima nenhuma na vida, pelo menos que se saiba. Fizemo-lo poeta, eu e alguns amigos, porque se passeava no jardim acompanhado de um pato negro, com a solenidade de um letrado do Olimpo. Alguém que numa cidade se passeia com um pato é poeta ou tem alma disso. No entanto, se nós, em vez de poeta, o tivéssemos feito Príncipe Real também não ficaria pior, porque condizia com a majestade com que ele atravessava a paisagem.”

 José Cardoso Pires, "O Príncipe Real" em A Cavalo no Diabo

Fotografia: Armando Serôdio, 1959, "biblioteca municipal no jardim do Príncipe Real" - Arquivo Municipal de Lisboa

14 de abril de 2016

morreu ontem arnold wesker

já aqui tinha falado de arnold wesker e do centre 42, que ele fundou e dirigiu.
wesker não foi apenas um dos nomes mais importantes da dramaturgia mundial do século 20.
ele foi determinante para a cultura britânica, para a participação activa dos artistas na luta e na vida dos trabalhadores, determinante para o que conhecemos como 'realismo britânico', para o renascimento da musica tradicional (mesmo que, penso eu, nunca tenha cantado)
arnoild wesker foi dos que sempre estiveram com 'os de baixo'
quando em 1960 o tuc (trade union congress) aprovou uma resolução extraordinária (a 42º da ordem de trabalhos), sobre a necessidade de um inquérito ao estado das artes no reino unido.
a resposta dos artistas britânicos não podia ser sido mais expressiva e mais generosa:
a nata dos jovens (e alguns menos jovens) escritores, dramaturgos, músicos, escultores respondeu ao movimento sindical que se eles estivessem interessados em tornar a arte popular entre as pessoas, eles estariam ao dispor para o que fosse necessário.
no ano seguinte, em 1961, estava então criado um dos mais influente movimentos artísticos dos anos 60. dirigido pelo dramaturgo arnold wesker e com gente como harold pinter, ewan mac coll, a.l. lloyd
o centre 42, tinha como principal missão encontrar uma audiência popular para as artes e foi isso que com o empenho e a direcção de arnold wesker conseguiu.
conseguiram a audiência e conseguiram uma imensa legião de escritores, pintores, músicos, que percorreram as ilhas britânicas num trabalho incansável de divulgação artística com a participação popular.
curiosamente, no começo deste novo empreendimento esteve a fundação calouste gulbenkian que financiou, em 1961, o projecto com 10 000 libras
3 anos depois estava 'sediado' na roundhouse: casa de uma lista infindável de acontecimentos artísticos, do teatro à música.
com a morte de arnold wesker vai um dos últimos sobreviventes da aventura inicial, mas mantém-se viva a actividade da roundhouse e do seu legado.