28 de fevereiro de 2013

As florinhas


Estou na esplanada a bebericar uma meia de leite e  a atacar uma bonita e imensa tosta. Reparo nos passantes, ouço as conversas, algumas azedas, outras simpáticas e vou pensando no que tenho a pensar.
Vejo entrar um casal e uma (suponho eu) empregada, ajoujados de malas e com um vasto ramo de mimosas(?), para o prédio ao lado. No meio da confusão, solta-se um pequenino galho e fica ali abandonado na calçada.. Quando me levanto, pego nele com reverência, e arranjo-lhe lugar em casa junto à fotografia da  minha mãe. Nunca fui de homenagens fúnebres, ela sabia, mas sei  também que ela gostaria de estar acompanhada com flores. E é isto.

27 de fevereiro de 2013

Tudo pela língua materna




... e antes de regressar à vida real, um apontamento desta manhã. Num estabelecimento das imediações, discutia-se o nome deste «peixinho». Como sabem que aqui a vizinha dá aulas, consultaram-na para servir de desempate na divergência. Houve até alguém que, não duvidando do pessoal esclarecimento, a custo zero e sem número de contribuinte apenso, (tudo pela língua materna), referiu o facto de, nos mercados e peixarias circundantes, ser deturpado o nome desta iguaria dos mares. A questão prendia-se com a letra inicial. Acrescentei que estar escrito de determinada forma, não atestava sobre a idoneidade da ortografia, basta olhar-se para as ementas de restaurantes, para referir um exemplo (conheço quem, por deformação profissional, as corrija a tinta vermelha).

Imagem: soemilheus.blogspot

26 de fevereiro de 2013

Sol e Frio

Atravessa-se a ponte que cheira a madeira. Estamos no centro da cidade. Sol e frio.

24 de fevereiro de 2013

And the oscar goes to...


 

 Um investigador fez uma previsão surpreendente para as últimas presidenciais nos Estados Unidos. Para tal, recorreu a algoritmos. Desta feita, aplicou a técnica à atribuição dos Óscares. São as seguintes as previsões, de acordo com a técnica: «Argo», melhor filme, Spielberg, melhor realizador , Daniel Day-Lewis, premiado pelo desempenho no papel do presidente que pôs fim à escravatura, Jenifer Lawrence, galardoada pelo desempenho em «Hapiness Therapy». A previsão é assinada por três organismos especializados neste tipo de análise alicerçada numa pesquisa atenta em fóruns e redes sociais. Recorrendo a um considerável número  de artigos, críticas e prognósticos e utilizando um potente algoritmo, os três analistas mediram, ao longo das últimas semanas, a expressividade de cada nomeado. Os resultados apurados revelaram ligeiras diferenças, mas os favoritos destacaram-se em todos os estudos: Daniel Day-Lewis, Cristoph Waltz ou Tommy Lee Jones deveriam receber o prémio pelo melhor desempenho secundário. Anne Hattaway, a distinção para o melhor papel secundário feminino e «Amor», de Michael Haneke, deveria receber Óscar para o melhor filme estrangeiro. Fica a referência, a fim de se poder aferir o rigor do método utilizado.

(fonte: L’internaute magazine)

23 de fevereiro de 2013

«Se por acaso me olhas, tenho vergonha da vida»*

Não muito dada a doces (nem aos que atraem a maioria), existe um, irresistível, as orangettes, cascas de laranja cristalizada, envoltas em chocolate amargo. Trabalho deste sábado terminado descobre-se, por acaso, um local onde as vendem, de fabrico artesanal. Pequeno capricho de fim de semana : trazer, para casa, um pacotinho, com o confessado «péché mignon»... Tendo acabado de espreitar o The Guardian, ressalta a imagem captada num país africano no qual, através de um programa internacional de combate à fome, se procede, com regularidade, à distribuição de porquinhos da índia para sobrevivência das populações. Preenchem, de modo súbito, o pensamento,  os versos finais de um despretensioso poema de Matilde Rosa Araújo por aqui deixado, em tempos: «diz que perdoas meu fato/junto de teu abandono/moço de fato macaco/que varres folhas de Outono». Nenhuma imagem para o apontamento presente (a das orangettes, por surgir como ostensivo despropósito, a do jornal britânico, por motivos pessoais que não vêm ao caso).

*versos do poema de Matilde Rosa Araújo citado no texto

22 de fevereiro de 2013

A gordita


Vai vigiando a cidade, a gordita diligente do Botero. Terá muito que fazer...

A modernidade

Estou a levantar dinheiro, entre chuva, e pressinto um táxi.Agito-me e o senhor pára.
Diz-me ele, ar afável e simpático: Não sei se esta modernidade dos computadores e essas tretas tais não nos estragam o carácter de vida. Tal e qual. E prolongou o raciocínio: Esta pressa faz-nos mal, não saboreamos devagar as coisas boas. Não vivemos em tempos fáceis, digo eu. Nunca ninguém viveu, diz ele. E tem razão. Hoje é sexta-feira. Dia de ir ter com o Miguel e sentir-me de novo completa. Sem pressas, prometo.

20 de fevereiro de 2013

a parede ao fundo do túnel

é sabido que estamos governados por um bando de ineptos e incompetentes.
mas o mais grave é que a sua ignorância não os deixa perceber quão estúpidos são.
a constante inépcia para compreender a crise e a forma de a ultrapassar bem como a incapacidade de reconhecimento dos erros cometidos é alarmante.
são ignorantes e fanaticamente convictos como todos os ignorantes.
cada medida que tomam torna a economia pior a a vida dos portugueses mais miserável.
é como se andassem na demanda do graal da incompetência.
e, ao sinal de falharem todas as previsões sobre o crescimento económico ou o desemprego, não dizem que vão corrigir as políticas: 
aquela besta ignorante que teoricamente comenda as outras bestas, diz que vai corrigir... as previsões.

alguém escrevia a semana passada no 'publico', ´não há luz, só túnel'
os portugueses cada dia têm mais a certeza que ao fim do túnel está uma grossa parede que, ou a derrubamos juntamente com o governo, ou morremos esmagados nela.
depende de nos não lhes dar descanso.

Adivinha

Onde estava eu?

13 de fevereiro de 2013

«Radio days»


Imagem: ricksantiqueradios

Na data de hoje viaja-se no tempo , reavivando memórias trazidas por um amigo dos meus avós. Contou-nos, na infância, sobre a festa em Lisboa, na data em que foi transmitida, em público, a primeira emissão no Rossio, a praça enfeitada de inúmeras bandeiras, povoada por uma multidão entusiasmada. Os transportes despejavam centenas de ouvintes incrédulos, que se acumulavam aos milhares. Narrou a efeméride com o tal «brilhozinho nos olhos», o Victor Hugo, que nos cantava árias de ópera, quando aparecia lá por casa, a dedicar boa parte do seu tempo de homem idoso, com uma cultura invejável, a atrair a nossa atenção - a minha e a dos meus irmãos -  na entrega dedicada às coisas que o apaixonavam. Considerávamo-lo algo excêntrico e detentor de uma personalidade cativante.
Não sei há quanto tempo se deu a efeméride, mas relembrei-a quando, há alguns anos, vi «Radio Days», de Woody Allen. É nestas lembranças que se vê utilidade na existência de datas rotuladas, por nos trazerem memórias de pessoas e de acontecimentos.

Um trecho da banda sonora do filme de Woody Allen aqui.

12 de fevereiro de 2013

Preceito




Foi a vontade de cheirar as lojas de comércio tradicional que nos levou na segunda-feira à baixa. E logo nos deu a inspiração de ir à Pollux, onde há anos não íamos. Corremos andar a andar, num armazém muito vazio, excepto na zona de plásticos, sacos e revestimentos. Quase que uma sensação estranha  de ver os tão poucos empregados, com tanta vontade de vender, numa imensa maioria de artigos pouco adequados ou caros. Um último andar com um café situado num local fabuloso de vista larga e soalheira, mas quase estragado pelos artefactos de flores artificiais em abundância. De novo a simpatia da empregada, sem subserviência mas eficiente. E à saída, não resisti a comprar chávenas de café e frascos de vidro para especiarias. Deslumbrei-me a olhar para o preceito com que foram embrulhadas e conferidas. Pena terem substítuido o cordel por fita-cola. Quase que apetece desejar uma melhor gestão para a Pollux, adequada ao tão bonito edifício, completamente descaracterizado e aos funcionários empenhados e profissionais. Enquanto não se investir seriamente na qualidade e oferta, não teremos muita hipótese de ver o comércio florescer.
Mas, tendo em conta tudo isto, vão à Pollux e experimentem esta viagem ao como era. Porque quisemos ir ao Brás e Brás e estava encerrado. Funciona agora no Poço de Borratém dizia um cartaz. É a vida. Por isso mesmo, vão à Pollux. E comprem qualquer coisinha.

Parabéns!

Os aniversários dos amigos servem de pretexto para lhes darmos mimos. Parabéns querido Azinho, ABS, Armando. Que tenhas um dia muito feliz. Beijinhos aqui da Alameda:)

7 de fevereiro de 2013

A Singer




Adília de seu nome escolhido por ser o da madrinha lá na aldeia do sul de onde veio casada e com um rancho de filhos, para os subúrbios da capital, à procura de sustento.
A casa escura, o pingo na torneira , alumínios a arear enquanto os miúdos comem o caldo de hortaliças, ainda o sol não desapareceu, a escola fica longe e o dia começa ainda escuro.
Roupa esfregada, cada sábado de manhã, no tanque do pátio , batas brancas obrigatórias na escola de finais de quarenta, cada filho só com um destes tapa- misérias de cor branca – faz-se questão no asseio – a ter de estar seco e engomado , cada segunda-feira.
Dia de aniversário (tinha-o esquecido),  chega a inesperada oferta do seu homem, uma Singer, nunca havia recebido, nem nos natais da infância, um embrulho que fosse, nem de papel pardo e cordel. Na vizinhança desses tempos outras chaminés havia, com  bonecos de pasta de cartão, soldadinhos de chumbo, dentro de cada sapato . O filho do presidente da junta chegou a receber um boneco de corda que tocava tambor e acabou por paralisar no dia seguinte, à custa de tanta azáfama de percussionista, com toda a criançada a rodar o mecanismo.
A Singer ocupou lugares de honra a um canto da entrada estreita, com direito a cobertura chita colorida, para não entrar o pó,  almotolia ao lado, utilizada para contrariar os danos de uma casa fria e húmida. Iria dedicar-se a fazer o vestuário das vizinhas e contribuir com uma pequena abastança, a família passaria a vestir-se melhor, com as artes de costura e os retalhos da retrosaria do bairro.

Praticar solidariedade


Agradecendo a todos os que já contribuiram para a inciativa de que vos falei há dias. No entanto e infelizmente  o afluxo das famílias que procuram ajuda é grande e cada vez é mais necessária a nossa solidariedade.  Para crianças, adultos e idosos. E relembro mais uma vez:
" A Isabel trabalha a dar apoio a famílias em risco na zona de Lisboa. Um destes projectos é uma "lojinha" que oferece roupa, brinquedos e outros bens às famílias que deles necessitem.
O espaço é simpático e pretende desdramatizar e dar dignidade a um momento difícil pelos que está a passar muita gente. Contou-me ela que se esvazia continuamente, tal o afluxo de pessoas.
Portanto, se tiverem roupa de qualquer tipo. brinquedos, coisas de casa, que já não vos são úteis mas que podem ajudar alguém, contactem-me pelo canjinha@gmail.com ou o telefone 213240520
Caso necessário eles vão buscar"

Foto de Ferdinando Scianna, Magnum

6 de fevereiro de 2013

afinal o tgv agora é bom

a maior bandeira dos actuais governantes para identificar os maus investimentos, desperdícios, loucuras, megalomanias e desfazamento da realidade do anterior governo, foi o tgv.

mesmo tendo sido uma obra que começou com um governo do seu partido, trataram de camuflar essa facto ao estilo da foto do funeral de mao tsé tung com o desaparecimento do 'bando dos 4'.
aquilo nunca existiu e eles não estiveram lá (lá, entenda-se no lançamento do tgv)
hoje apareceu a notícia que o governo, de um modo aparentemente secreto assinou, através da parpública, um contrato de financiamento com um consórcio de bancos composto pelo santander, bcp, bes e caixa, no valor de 600 milhões de euros (exactamente o mesmo valor que estava no concurso ganho pelo consórcio que ganhou o concurso para o troço poceirão caia feito no anterior governo).
não foi preciso muito tempo para que aquilo que era uma loucura, agora seja um projecto louvável; aquilo que era um investimento louco em época de crise, agora seja o investimento certo em época de crise.
não foi preciso muito tempo para este governo entender que o projecto é estruturante e precisava mesmo de ser realizado.
pelo meio já se perdeu tempo e dinheiro e os outros países mesmo em crise avançaram com aquilo que era realmente importante e não megalómano.
mas nós gostamos mesmo é de discutir o acessório.
nisso somos espectaculares.

p.s. se o contrato foi assinado a 22 de janeiro, porquê o segredo?




5 de fevereiro de 2013

a importância dos curricula

de acordo com o nosso primeiro ministro, os curricula servem para descrevermos aquela parte do nosso passado e experiência profissional que é desconhecido da generalidade das pessoas, e daquelas para quem pretendemos trabalhar.
para explicar o inexplicável, passos coelho justifica a omissão no curriculum de franquelim alves a sua passagem pela sociedade lusa de negócios, apenas porque já toda a gente sabia e não valia a pena falar disso.
imagina-se que toda a restante carreira de franquelim alves foi inútil (incluindo a sua passagem pelo mrpp, sim foi meu camarada um curto período de tempo, pela editora vento leste, pela revista o tempo e o modo e pela chefia da redação do luta popular, já no começo dos anos 80, igualmente omissas porque são obviamente do conhecimento geral da população portuguesa), já que  ninguém delas soube, pelo que precisam se ser incluídas nesta nova versão dos curricula para as actividades desconhecidas e outras actividades menos notórias
o primeiro ministro entrou naquilo a que podemos chamar uma espiral recessiva de vergonha e respeito pela verdade.
não será mentira compulsiva.
mesmo sendo as pulsões são a única coisa que o parecem guiar, a mentira parece ser mais uma obra do acaso de uma mente erraticamente perdida.
é mais um padrão.
nem uma única decisão tomada com o discernimento que uma atitude séria e ponderada deve ter.
e porque o passado profissional do franquelim alves merecia melhor tratamento, ele devia ter sido poupado a este vexame público.
mas o próprio parece querer também colocar-se a jeito.

3 de fevereiro de 2013

Django Unchained





Gostar de Tarantino sem acanhamento ou preconceito, encontra explicação na impressão digital deixada pelo realizador, na aparente simplicidade da dicotomia bons/maus; preconceituosos/mentes livres, requintados/boçais…Perpassa uma violência não gratuita, a conduzir os destinatários das imagens (dois momentos do filme levam a desviar o olhar, mas só esses). Sente-se ainda o gozo – para o realizador e alguns destinatários cúmplices – da escolha da banda sonora que, em alguns pontos, quase nos transporta a momentos altos da nossa  autónoma (a outra pertence a um departamento bem menos empolgante) educação musical, apetecendo pedir: «interrompa-se o filme, vamos passar, por momentos,  a ver e ouvir Richie Havens em “Freedom”... para não mencionar Johnny Cash... "there ain't no grave..."». Um filme extenso? Não se dá pelo correr do tempo…
Fica-se a rir por dentro, sabendo que – vide a última grande digressão americana dos clássicos Crosby, Stills, Nash & Young e o modo como foram recebidos em Atlanta  - a película será mais uma pedra bem colocada em alguns sapatos.

(opção para não traduzir o título do filme: «unchained» não equivale, na totalidade, a «libertado»)

Django Unchained

Foto: blog soinlovewiththemovies

2 de fevereiro de 2013

Em busca da "leveza" de Italo Calvino



Um instantâneo do primata em cativeiro e disparam pensamentos desordenados:  a associação a um filme baseado numa estudiosa da espécie; o facto de estes animais terem um regime alimentar na quase totalidade vegetariano; discussões e teorias de ciência vs religião… a lista começa a levar ao bocejo, servindo de pretexto para fugir a uma escrita com data marcada, que se pretende rigorosa e parte da articulação de características defendidas por Italo Calvino em Seis propostas para o próximo milénio, conferência pouco anterior à sua morte. Desafia-nos o escritor com as seguintes características: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência.
O dia afigura-se pouco convidativo a sair de casa, mas é grande a tentação da leveza, destacada por Calvino enquanto olhar atento, a abarcar ângulos diversos, em  recusa à visão óbvia (o peso) das coisas, vulgarmente designada por ideias feitas. Torna-se aliciante a proposta de se resistir ao peso, contrapondo-lhe subtilezas. O que terá isto a ver com gorilas? – pensa-se …  é que estes animais são livres (não o da foto, que o será de modo relativo...) e – por contraditório que se possa afigurar – movem-se com a agilidade (no caso próprio desejar-se-ia a mental) que, quanto mais premente se torna, mais esquiva se revela…




1 de fevereiro de 2013

Bilhetinhos deixados em casa

Confesso que fico de lagrimita ao canto do olho, quando encontro estes bilhetinhos que me deixa a minha sobrinha-neta Maria:)

de quem são as pernas?




da linda gray, por claro!!

e está bem mais bonita agora...


paco ibanez e sasha waltz na gulbenkian

não juntos!!
mas ainda assim, os dois.



este domingo, paco ibanez vai à gulbenkian cantar os poetas da américa latina.
de nicolás guillen, césar vallejo, pablo neruda.
a lotação está esgotada e não me vai ser possível rever um dos maiores cantores da lingua castelhana.
relembro uma noite mágica no largo central do seixal em que paco ibanez mostrou como continua a ser uma voz cada vez mais necessária.
no domingo seguinte, dia 10, é a vez da companhia de sasha waltz regressar a portugal.
aqui falei dela a propósito do deslumbrante 'dido and aeneas'.
desta dez, a sua proposta é, com mark andre, realizarem um concerto coreográfico (gefaltet) onde exploram os sons e os silêncios na música de mozart e do próprio mark andre.
o resultado só pode ser algo a absolutamente não perder!!!


paco ibanez, andaluces de jaen


sasha waltz, mark andre, gefaltet