
Em tempo de Feira do Livro ou , melhor ainda, de diversas iniciativas espalhadas por esse país fora, dado não se confinar a venda deste artigo ao espaço da capital (nas proximidades decorre, menos ambiciosa, a feira de Cascais e certamente outras ainda) , afigurou-se interessante uma investigação de finais do século passado aos hábitos de leitura no século XVIII. O estudo dos anos noventa da autoria de João Luís Lisboa intitula-se Ciência e Política. Ler nos finais do antigo regime. Nele ficamos a saber que, na época de Pombal, sendo os livros a grande via de contacto entre Portugal e a Europa das Luzes e o nacional universo alfabetizado muito restrito, as publicações no nosso país só se destinavam a ter algum sucesso quando suscitavam curiosidade pelo cheiro a escândalo, sendo disso exemplo a Medicina Theologica. Ao livreiro, interessava essencialmente o facto de a obra ser sucesso de vendas e não o rigor de conteúdo. Havia subscrições antecipadas como garantia de escoamento e anúncios na imprensa a tentar os leitores. A divulgação era feita na Gazeta de Lisboa e no Jornal Encyclopédico, publicidade mais tarde alargada ao Jornal de Coimbra.
O autor deste estudo investigou quais os espaços, as condições de venda, a língua estranha em que mais se lia, os gostos e sua flutuação (ciência, religião, novela, romance, direito).
Transpondo a situação para os nossos dias e, ao pensarmos nos títulos e nos autores mais vendidos, fica a interrogação se ao longo de mais de dois séculos teremos assistido a mudanças dignas de registo.
"Ao livreiro, interessava essencialmente o facto de a obra ser sucesso de vendas e não o rigor de conteúdo."
ResponderEliminarNada mudou.
O caro José tirou-me as palavras das pontas dos dedos!! Vinha cá dizer exactamente isso, infelizmente, diga-se de passagem!!
ResponderEliminarDepende dos livreiros. E dos editores. Ainda existem aqueles que merecem o nosso respeito e afecto.
ResponderEliminarConcordo, T, mas são as excepções...não a regra.
ResponderEliminarO "lixo" best-seller que no quotidiano observamos nas nossas livrarias, tem responsáveis, e não são, seguramente, os leitores.
Ora José...Vá espreitar no pavilhão da Frenesi, que também vende a Hiena , a ETC e espólios de outras editoras. Verá uma bela colecção e pessoas que vivem o que fazem. Não são merceeiros dos livros.
ResponderEliminar:)
ResponderEliminarAinda hoje estive no pavilhão da Frenesi.
Mas são as excepções.
Como em todos os ramos de actividade, há os que valem a pena, e os outros...
Então esteve com a minha amiga e colega Telma ?
ResponderEliminarEstive apenas com os livros expostos.
ResponderEliminar:)
Faça-a falar que ela sabe imenso. Aprendo imenso todos os dias com ela.
ResponderEliminarDois imenso, paciência:)
ResponderEliminarSou optimista q.b. (sem grandes entusiasmos), sorrindo moderadamente sempre que penso na frase ajuizada: «um pessimista é um optimista com experiência». Por esse motivo, acredito em bons editores e livreiros, mas também me parece que não serão assim tantos... a acrescer à constatação, não há tanto tempo assim, tive acesso a estatísticas que revelavam (em tempos de não haver jornais online) - por comparação a outros países europeus - sermos dos que ficávamos quase no fim da lista no que diz respeito a leitura de periódicos...a constatação algo desencantada não significa depreciar um país, mas sim o cingir-me à informação existente
ResponderEliminar( que me pareceu de fonte fidedigna).
Um mau serviço prestado parece-me ser, em muitas livrarias, a divulgação destacada de um conjunto de títulos 'algo esotéricos' ou de literatura muito, muito cor de rosa que passaram a figurar no topo de vendas/preferências .
Mas isso não se pode aferir por aí. Temos péssima comunicação social, com as excepções devidas, claro. Servem na maioria para forrar o caixote de lixo.
ResponderEliminarT,
ResponderEliminarO estudo a que tive acesso e que colocava os alemães como os 1ºs consumidores de imprensa, utilizava o critério 'leitura de jornais diários' como 1º aspecto para caracterizar desenvolvimento/literacia das populações, é certo que vendo a coisa só assim, a mesma poderá ser discutível, mas defendo a leitura de jornais com todos os defeitos e virtudes que têm, havendo uns 2 ou 3 títulos em que não pego nem de luvas, mas isso já é outra questão que induziria ao sono... :)
Mas sabemos que cada estudo se caracteriza por utilizar as variáveis que quer,atendendo aos resultados que quer atingir. A estatistica serve para servir isso mesmo. A leitura de jornais já era. Agora googla-se.
ResponderEliminarTambém sei disso no que diz respeito às estatísticas... espreito jornais no 'google',mas não dispenso a compra de jornais, uma certa herança deixada pelo meu pai que vivia inundado em jornais... mas reconheço que, ainda há menos de um ano, descobri ( entendi porquê e não gostei) que uma notícia de abertura na imprensa espanhola, francesa e italiana nem sequer tinha sido mencionada na nacional ...
ResponderEliminarO meu pai não dispensava jornais, assim como os meus irmãos não dispensam. Eu vivo sem eles há anos.
ResponderEliminarDiscussão interessante.
ResponderEliminarAchegas:
Os jornais mais lidos em Portugal são "A Bola", o "JN" e o "Correio da Manhã"...
A estação de tv com mais audiência é a TVI...
As revistas apelidadas de "cor-de-rosa" lideram os mercados...
Com todo o respeito pelas estatísticas, a realidade é esta.
Mais, qualquer apresentador de tv que rabisque umas páginas, arranja imediatamente editor que transforma aquilo em campeão de vendas, chame-se Santos ou Júlia.
José Quintela Soares,
ResponderEliminarConcordo genericamente, embora - e aqui fica uma ressalva- tenha verificado em tempos (não sei se assim se mantém) que alguns artigos de A Bola, independentemente do seu conteúdo, tinham pelo menos (e não será pouco) o mérito de se encontrarem redigidos num Português escorreito, não sendo o mesmo extensivo a certos romances ou 'pasquins'... o que conferirá valor literário a um determinado título? Será o número de vendas? Será ter como autor algum descendente de escritor consagrado ou alguma figura mediática por outros motivos (por vezes fúteis e nem sempre 'nobres') que não a Literatura em si própria? Como um dia escreveu um dos grandes num dos seus mais belos textos: «tantas histórias, quantas perguntas»...
Sim, teresa, ainda sou do tempo em que o corpo redactorial de "A Bola" era formado por Victor Santos, Carlos Miranda, Aurélio Márcio, Alfredo Farinha, Homero Serpa, Carlos Pinhão e outros de igual estirpe.
ResponderEliminarEra um prazer lê-los, privilégio que desapareceu com eles, substituídos (mal) por tantos e tantos que de jornalismo pouco sabem ou querem saber.
José Quintela Soares:
ResponderEliminarÉ verdade: dessa "A Bola" até eu gostava e bastante, apesar de não ser benfiquista (eu, porque "A Bola" também nesta matéria de benfiquismo chegou a um estado lastimoso, pelo meu critério - e para não haver dúvidas o "nesta matéria" pretende significar isenção clubística). E também acho que o seu grafismo pode ser muito modernaço mas pouco legível é-o indiscutivelmente.
Teresa:
"(...)alguns artigos de A Bola, independentemente do seu conteúdo, tinham pelo menos (e não será pouco) o mérito de se encontrarem redigidos num Português escorreito"
Tanto quanto me lembro, o "alguns" estará a mais. Julgo que todo o jornal "A Bola" beneficiava dessa qualidade. Mas mesmo hoje ainda há por aí muito pior que "A Bola"
T.:
"A leitura de jornais já era. Agora googla-se."
Pois é. Seguem-se os livros. É só uma questão de tempo. Atrás do tempo, tempo vem.
CMD
Concordo que ao ter feito referência a um passado não muito distante fui muito moderada. A Bola era uma estratégia bem conseguida de levar alguns miúdos renitentes/resistentes à leitura a ler num Português saudável, seguindo o tal lema chinês de «o importante não é ter um gato parecenças com um gato desde que cace ratos...». Relativamente aos tempos que correm, acredito no que afirmam os comentadores mais entendidos nestas matérias desportivas quando referem a gradual perda de qualidade da publicação... é que com o filão de alguma ficção juvenil bem conseguida de alguns autores consagrados, não precisei de voltar a mergulhar nos desportivos:)
ResponderEliminarOs livros vão ficar...Disso tenho a certeza.
ResponderEliminarOs jornais duvido que permaneçam.
Quanto ao Carlos Pinhão já aqui o recordei. E vai ser recordado mais vezes. Grande escritor.