30 de novembro de 2003

Não o diem

Toca a campainha. É um senhor. Mais de sessenta, certamente. Moreno. Traz um avental azul, desbotado, um pouco puído; e uma enxada.

- Quer que eu dê uma carpida aí no mato?

Cresce um matinho nas rachaduras da calçada aqui em frente; ultimamente tem chovido, tem feito calor, as folhas se espicham e se espalham.

- Não quero pedir. Quero trabalhar.

- Tá certo. Quanto você quer?

- Dois reais (uns setenta centavos de euro), e se o senhor me der uma sacolinha eu ajunto o mato e ponho ali na sua lixeira.

- Feito.

Dou os dois reais e a sacolinha. Ele carpe.

* * *

Às vezes vêm pessoas pedir comida. Não dinheiro: comida.

- O que o senhor tiver já ajuda.

Dou. Sempre dou. Negar comida é o fim do mundo. De outra vez é uma mulher, com uma menina de colo:

- Só um real, senhor, pra eu pegar o ônibus.

Dou o real. A menina, limpa, ri e me faz festinha.

- Como é o nome dela?

- É Mariana.

- Que linda que você é, Mariana!

E a gengivinha sem dentes se arreganha, rindo até em cima. Quando vai embora, dou "tchauzinho", e ela ainda ri, tentando devolver o gesto com os dois braços - coisa de nenê.

* * *

Dir-se-á que se pode fazer muito mais do que isso. Mais: que se deve fazer muito mais do que isso.

Concordo. Não me orgulho desse pouco, nem me defendo. Faço o que posso, vou até onde consigo, ando com as pernas que tenho.

Não acredito em Deus, ou deuses. A menos que os dias, que se sucedem, façam-lhes as vezes.

Sou, como todos, menor que tudo.

29 de novembro de 2003

dias de olho pisco

Pois estou como a minha avó Nené.
Olho pisco.
Cansada e surpreendida.
Desatada e amarrada com tarefas.
Desapegada e livre.
Saudades dos ausentes daqui.
Jb e tinto com fartura.
Amigos a serem lenitivo risonho de um dia de merda.
Beijos.

28 de novembro de 2003

Alejandra Pizarnik

Já agora apresento a minha poeta preferida, contemporânea da Plath e do Júlio Cortázar,
a Alejandra Pizarnik


Não, as palavras não fazem amor
fazem ausência
Se digo água, beberei?
Se digo pão, comerei?

Alejandra Pizarnik

27 de novembro de 2003

Os novos poetas

Um dos mais novos e brilhantes poetas da actualidade. Fica um fragmento, propositadamente sem título. Sugiro a leitura do poema completo. Surpresa?

Dear Slim, I wrote but you still ain't callin
I left my cell, my pager, and my home phone at the bottom
I sent two letters back in autumn, you must not-a got 'em
There probably was a problem at the post office or somethin
Sometimes I scribble addresses too sloppy when I jot 'em
but anyways; fuck it, what's been up? Man how's your daughter?
My girlfriend's pregnant too, I'm bout to be a father
If I have a daughter, guess what I'ma call her?
I'ma name her Bonnie
I read about your Uncle Ronnie too I'm sorry
I had a friend kill himself over some bitch who didn't want him
I know you probably hear this everyday, but I'm your biggest fan
I even got the underground shit that you did with Skam
I got a room full of your posters and your pictures man
I like the shit you did with Rawkus too, that shit was fat
Anyways, I hope you get this man, hit me back,
just to chat, truly yours, your biggest fan
This is Stan

Whitman

Para a troca. O tipo mais fabuloso da poesia americana (além de mais uma meia dúzia, tá bem). O Pessoa adorava-o, o que só revela bom gosto. Fica de amostra o princípio do poema, para mim, mais marcante.

I sing the body electric

I SING the body electric,
The armies of those I love engirth me and I engirth them,
They will not let me off till I go with them, respond to them,
And discorrupt them, and charge them full with the charge of the
soul.

Was it doubted that those who corrupt their own bodies conceal
themselves?
And if those who defile the living are as bad as they who defile the
dead?
And if the body does not do fully as much as the soul?
And if the body were not the soul, what is the soul?


Quem quiser o resto poderá encontrá-lo, por exemplo, aqui.

Sem horários!!!

Adoro fins-de-semana longos!
But then again who doesn’t?!
Para mim o fim-de-semana ideal, ou para ser perfeito, devia ter 3 dias. E porquê? perguntam vocês.
É uma mania minha, respondo eu. Talvez porque gosto de nrºs impares, assimetrias ou, simplesmente, porque me parece o nrº ideal de dias para esquecer o trabalho, curtir e recuperar.
Este vai saber-me especialmente bem. Começa hoje e só termina na próxima 2ªfeira. Estou cheia de planos! Diversos. Mas não me vou preocupar em cumpri-los à risca... sem stress! De entre eles destaco um ataque à fnac, verdadeira fúria consumista: livros, música e mais livros. O resto seguirá ao sabor da vontade... sem horários!

dias extenuados

confesso que ontem tive a minha dose.
estou mais partida do que se tivesse feito 3 horas consecutivas de ginásio.
não há nada que não doa.
e mais, ainda restam coisas para fazer!!!
nem maisculas consigo fazer.
Mas vale a pena. Está tão bonito:)))) Os livros estão todos satisfeitos:))
Ena...já consigo fazer as ditas.

26 de novembro de 2003

Alemanha, aí vou eu...

Esta semana acabou cedo. Amanhã parto, Domingo volto!
Que se fará em Munique?...
Vou descobrir!

O meu último post não tem a ver com grandes conhecimentos nessa área. Pelo contrário, existem dois conceitos que não consigo abarcar na sua totalidade: o da relatividade e o do espírito santo.
Como o segundo me parece bem mais complicado, tenho dedicado algum tempo ao primeiro. Ontem, dei com aquela página, comecei a ler com interesse e empenho, e ia pensando: é hoje, é hoje!... Pensava eu já ter aprendido muito (santa inocência...), quando a coisa começou a ficar muito complicada, mesmo muito. Nessa altura li qualquer coisa como isto: "até agora foi o básico, agora é que começa a ter interesse!". Desisti...
Salvou-se aquela frase "O tempo só voa quando não vamos a lado nenhum", que me pareceu bastante adequada a este blog :)

PP: A Taça América foi para Valência... É justo, já lhes tinhamos sacado o Euro!

PPP: Acabou hoje o prazo para pagar o IRS... Que se lixe, pago pró mês que vem!

O tempo só voa quando não vamos a lado nenhum.

Embora possa parecer um contra-senso, esta ideia traduz uma verdade científica.
A culpa é do Einstein e da sua teoria da relatividade.
A velocidade da luz é constante, é esta (mais ou menos…) a formulação do seu famoso segundo postulado. Só que, para esta verdade ser verdadeira, outras verdades têm que ser mentira: o tempo e o espaço não podem ser constantes!
Disto resulta que, e para um dado objecto em movimento em relação a outro objecto parado, o espaço contrai-se e o tempo dilata-se. Ou dito de uma forma mais simples: um relógio em movimento 'corre' mais devagar que um relógio estacionado.

E assim, se ‘nós’ conseguissemos um permanente movimento, o ‘nosso’ tempo seria infinitamente mais lento.
E os nossos dias nunca voariam


25 de novembro de 2003

A sul nada de novo...

Anunciaram-me hoje um blog novo, cheio de nomes sonantes. Postaram lindos textos, todos de enfiadinha … Daaah!! Mas, curiosamente, todos editados pela mesma menina maria: será que não sabem mexer no bicho?

A propósito das recentes polémicas médicas, encontrei esta posta de besugo:
…A bem dizer, o país não acha nada. O país quer tudo (mais e bons médicos, mais e bons investigadores, tudo misturado...) e, nesse querer absoluto, tem andado a pagar especializações em cardiologia, oftalmologia e otorrinolaringologia, quiçà em dermatologia, especialidades que se vocacionam (de forma indesmentível, andamos aqui a brincar?) para... enfim, para a exploração privada do saber. Frase elegante, que define a verdadeira autofagia dum sistema promíscuo que é o nosso.
Aprovado! Acho que aqui se toca o cerne mais intímo da questão, digamos. Acrescentaria mais algumas especialidades, quiça todas… Se existe falta de médicos no Serviço Público, porque não se tenta evitar que a especialização pública se direccione, quase exclusivamente, para a excelência privada?

25 de Novembro:
Para o bem e para o mal, esta é uma data de aniversário. Para o bem e para o mal, cada vez está mais esquecida!

Frase do fim-de-ano:
Somos um país pobre. Não podemos andar aí a esbanjar dinheiro por tudo e por nada. Dita por Vitorino (o político, não o cantor) a propósito de não haver festa rija na inauguração do Estádio do Euro cá da zona.

Quinta-feira vou até Munique:
Ólicas! :) Nem que seja só para apanhar chuva e tremer de frio, mas vou!

PP: Continuo perdido… os posts estão muito rápidos! Já é natal?

Dias de estragar unhas

Ontem comecei a renovação da casa.
Carreguei e espirrei que me fartei. Programa que se prolonga para hoje e amanhã.
Mas como já disse aqui umas quinhentas vezes, eu adoro mudanças.
Logo estou sorridente e resolvi empreender mudanças aqui no trabalho também.
Estamos de janela de sacada aberta..um luxo em Lisboa.
E este sol faz-me bem. Areja-me a alma, tão coberta que está de pó.
Dei por mim a ser um eu muito resolvido. Para variar:)
Decidido também. Portanto estou perfeitamente insuportável para quem tenha que me aturar.
E posso respirar fundo e não sentir nenhum nózinho no peito ou no coração ou lá qual é a porra do orgão.
Acabaram as pendências, viva a liberdade total:)
E a R coitadinha..ali a trabalhar..a trabalhar..O Wish é que ainda não reparou nela..risos..Ela faz umas belíssimas sopas:))
Beijos

Dos sons que aqui não chegam

Ah, se vocês soubessem o pouco que nos chega de rock ou música pop portuguesa. Conheci os Heróis do Mar, a Sétima Legião, o Rádio Macau e mais os Xutos e Pontapés pelos vinis de um amigo, que os arranjou também não sei como. Lembro que havia ainda uma banda cujo vinil vinha não num envelope de papelão, mas sim numa lata como de biscoitos; e de uma outra, um quarteto cujo disco se chamava “Táxi”, ou que eles apareciam dentro de um táxi; não guardei seus nomes. Lembro de ter visto uma foto da cantora do Rádio Macau e a achado barbaramente bonita; e os Xutos até chegaram a tocar por aqui, se bem me lembro abrindo apresentações dos Titãs. Mas isso ainda nos anos oitenta; uma vez os ouvi no rádio, e meu irmão perguntava: “mas que diabos é manaira?”, sendo que era À Minha Maneira. Claro, o Madredeus foi uma febre por aqui, praticamente todo mundo tem pelo menos um disco deles; eu tenho aquele com a maravilhosa música que reza “só tenho medo do grande mar... cuidado!”. Que cantora soberba. Mas o que sempre nos chegou foi a Amália Rodrigues, e aqueles que vêm gravar com a turma daqui, como a Eugénia e o Godinho. Só. Do progressivo português, que deve ter havido, nada se sabe; do punk, então, muito menos. E do que se faz agora? Nadica de nada. É verdade que, pelos anos oitenta, o rock aqui fervia, e tivemos uma bela dúzia de cantores e bandas emblemáticos, que eu nem sei se são conhecidos aí: a Legião Urbana, o Cazuza, os Titãs... Há tão pouco intercâmbio! Sabe-se tão pouco, divulga-se menos ainda. Vejo que há aí um mundo escondido, e eu que gosto tanto de música... Lamento saber que essa moça da Banda do Casaco morreu, porque achei que cantava como a Kate Bush. E do Rão Kyao já ouvi falar, mas creio que seu nome estava ligado à música do tipo new age. Pouco.

24 de novembro de 2003

Os dias ou voam ou se arrastam!

Tenho tido muito pouco tempo de net e não consigo acompanhar diariamente os posts que surgem aqui. Então enquanto leio, em 5 ou menos minutos online, os posts de quase semanas atrás todos de seguida, vou reparando num monte de coisas que valeria a pena comentar se ainda fosse um comentário minimamente actual, e não tão atrasado. Às vezes penso em anotar para que agora tivesse imensas coisas para dizer, mas nunca anoto. De modo que chego aqui e já não me lembro de nenhuma, excepto uma que me ficou inevitavelmente na cabeça...

Gasel, que é "Uga buga"?

Estou perdido...

De repente, após uma semana de posts calmos, o mundo desabou. No meio de tantas referências cruzadas a bandas e cantores, perdi-me...
A Sabrina foi vocalista da Banda do Casaco?
O Rodrigo Leão foi guarda-redes da selecção brasileira?
A Né Ladeiras escreve odes à Camâra Municipal de Lisboa, em inglês?
O Pedro Ayres de Magalhães foi o herói do mar que descobriu os Açores?
Que horas são?
...?
Mas, de caminho, lembrei-me desses tempos loucos de música rock portuguêsa, ainda antes do tal "boom" dos anos 80, da "tirania" das editoras e do poder da televisão. Esses, eram os tempos dos espectáculos ao vivo, das festas de finalistas, das cenas de pancadaria. Teria eu 15 ou 16 anos, para aí...
Lembrei-me dos Arte&Ofício, do Puerto, do Garcez, do rock da pesada em inglês.
Dos Tantra, e o seu rock sinfónico, místico.
Dos Faíscas, os primeiros punks que destruiam os palcos e batiam no público.
Dos UHF, com Jorge Morreu e Cavalos de Corrida.
Dos Go Graal Blues Band, do Gonzo, com um rock soft, meio blues.

E com a altura é de imagens, cá vai:

Sabrina

esta é uma foto da dita cuja na altura do seu sucesso.
digam lá se nao está melhor agora.

Para o Orlando

Raras vezes terá havido na música portuguesa uma conjugação de artistas como os Heróis do Mar. Separadamente, os cinco membros transformaram-se em peças-chave do meio musical português; em conjunto, foram um dos grupos mais importantes e inovadores que o rock português viu nascer.
Quando se formaram, em 1981, já todos tinham alguma experiência musical. O baixista Pedro Ayres Magalhães e o guitarrista Paulo Pedro Gonçalves haviam sido fundadores dos Faíscas, o primeiro grupo punk português, que existira entre 1977 e 1979 sem nunca gravar, mas influenciara nomes como os Xutos & Pontapés. Quando os Faíscas desapareceram, Magalhães e Gonçalves formaram os Corpo Diplomático com o teclista Carlos Maria Trindade. Tozé Almeida, por seu lado, fora baterista dos Tantra desde o início daquele grupo. O cantor Rui Pregai da Cunha, finalmente, tinha um projecto experimental chamado Colagem Urbana.
O que reuniu estes músicos em Março de 1981 foi a ideia de Magalhães e Gonçalves de formarem um grupo musical que reflectisse de algum modo Portugal, a sua história e a sua cultura. A escolha do nome Heróis do Mar, retirado ao hino nacional, não foi casual, tal como também não o fora a opção por um visual futurista-militarista e por letras simples que projectavam um imaginário cultural nostálgico por um Portugal mítico, colonial e classicista.
Quando o álbum de estreia, Heróis do Mar, é lançado no Outono de 1981, a polémica estala à volta do grupo, que é acusado de fascista e neonazi, tal como acontecera poucos meses antes em Inglaterra com os Span-dau Ballet por razões muito semelhantes, relacionadas com o imaginário utilizado por ambos os grupos que tocava em pontos sensíveis da memória colectiva ocidental. O 25 de Abril estava ainda demasiado próximo para que canções como Saudade ou Brava Dança dos Heróis, inspiradas ao mesmo tempo na música electrónica futurista proveniente de Inglaterra e numa atitude de reciclagem estética, pudessem ser recebidas pacificamente.
O tempo encarregou-se de eliminar a polémica, deixando apenas a música que foi finalmente reconhecida apenas pela sua qualidade. Nem foi preciso muito tempo: no Verão de 1982, Amor, uma canção de dança que não fazia parte do álbum, torna-se no maior êxito de sempre da música popular portuguesa desde Eu Tenho Dois Amores, de Marco Paulo, levando à criação do Disco de Platina, que até então não existia em Portugal.
Mas o sucesso não será repetido pelos discos seguintes, onde o visual era já menos ousado e se inspirava mais nos cabedais punk ou nos tecidos de pescadores.
Mãe, o álbum de 1983, é bem recebido pela crítica mas não pelo público, e o mini-LP de 1984, O Rapto (que inclui o êxito de rádio Só Gosto de Ti) passa despercebido.
Apenas dois singles mantêm a chama acesa: Paixão (1983) A Alegria (1985), obtêm sucessos discretos na rádio, sem repetirem a popularidade de^mor.
O consenso junto da crítica é que desde o primeiro álbum e/4morque os Heróis do Mar não conseguem concretizar todas as potencialidades criativas do colectivo.
Entretanto, os músicos começavam a desmultiplicar-se em projectos a solo. Paulo Pedro Gonçalves e Carlos Maria Trindade gravam discos em nome próprio, Pedro Ayres Magalhães dirige a editora Fundação Atlântica, onde produz discos de Anamar e Delfins, e escreve e produz o álbum de Ne Ladeiras Sonho Azul.
Os cinco Heróis estão também envolvidos no último disco de António Variações Dar e Receber, onde todos tocam e Magalhães e Trindade igualmente assinam a produção e os arranjos.
1985 traz um período de crise: coincidindo com a edição do singie Alegria, anuncia-se a possível saída (não concretizada) do cantor Rui Pregai da Cunha, e o grupo muda de editora. A saída da crise dá-se durante uma viagem a Macau: dos dez dias que previam ficar no território para dar concertos, ficam um mês e regressam a Portugal rejuvenescidos e renovados.
Dessa viagem nasce, depois de quatro meses passados em estúdio, o álbum Macau, que, publicado no final de 1986, relança a carreira dos Heróis do Mar com o seu maior êxito crítico de sempre.
Mas os cinco músicos estavam claramente cada vez mais afastados: Carlos Maria Trindade é muito requisitado como produtor, trabalhando com os Rádio Macau e Delfins, Tozé Almeida forma uma produtora televisiva, Pedro Ayres Magalhães lança os Madre-deus com Rodrigo Leão dos Sétima Legião. Depois de um último álbum lançado £m 1988 e intitulado simplesmente Heróis do Mar, gravado já sem Almeida, o grupo desfaz-se em 1990, na sequência do abandono definitivo de Trindade.
Mas se os Heróis do Mar encerram actividades em 1990, deixando cinco discos de valor e popularidade diferentes, o mesmo já não se pode dizer dos seus componentes. Só Tozé Almeida não se manteve ligado directamente à música, dedicando-se à realização de programas televisivos, publicidade e alguns telediscos. Pedro Ayres Magalhães pôde dedicar-se a tempo inteiro aos Madredeus, concebendo igualmente o projecto Resistência, fazendo durante algum tempo parte dos Delfins e ajudando na criação da União Lisboa, empresa de agenciamento e manage-mentde artistas, que apadrinhou os Delfins, Santos & Pecadores e Pólo Norte entre muitos outros. Rui Pregai da Cunha e Paulo Pedro Gonçalves formarão, sem sucesso, um dos primeiros grupos nacionais pensados internacionalmente, os LX-90, antes de se radicarem em Londres com os Kick Out The Jams; Cunha retirar-se-á eventualmente da música, e Gonçalves seguirá para os Ovelha Negra, um projecto de "fado urbano". Carlos Maria Trindade foi executivo numa editora multinacional e gravou dois álbuns em nome próprio antes de se juntar a Magalhães como teclista dos Madredeus após a saída de Rodrigo Leão. Certo é que, mesmo depois da dissolução do projecto, os Heróis do Mar continuaram a ser uma força importante na moderna música nacional, apostada em elevar a fasquia da qualidade sem perder de vista o público nacional a que se dirigia.

Estou farta de mim!!!

Estou nada farta, isto é só conversa.
A hora do almoço nesta sala é sempre animada.
Junta-se o povo todo e fica tudo na má lingua e a galhofar.
E uma amiga minha saiu-se com esta: " Estou farta de mim!!!"
Achei giro.
O que faria, se estivesse farta de mim própria?
Punha-me na reciclagem? Auto-triturava-me pra bolonhesa?
A R está pra ali a escrever..e eu a espreitar de longe..risos
Caraças...mas daqui não dá pra ler:)
Solzinho e um frio e uma ventaça doida...
E nós aqui a fazer "encomendas" para a Guatemala e pró México.
Claro que a R vai receber à tarde mais gente de olhos em bico.
E as minhas estantes vão ser colocadas na quarta-feira:)
Viva a Olaio!!!
Beijos


Porque amamos o Orlando...


Em 1973 começa o futuro da Banda do Casaco, quando Nuno Rodrigues encontra um membro da Filarmónica Fraude(António Pinho) e decidem formar um novo grupo , que tivesse bastante influencia da música tradicional portuguesa.

Pela Banda do Casaco passaram dezenas de músicos e cantores de que será justo recordar Carlos Zíngaro, Cândida Branca-Flor, Rão Kyao, Gabriela Schaff, Né Ladeiras, Helena Afonso, Mena Amaro, Zé Nabo, etc, etc.

Ao núcleo principal, composto por Rodrigues, Pinho e o violoncelista Celso de Carvalho ( recentemente falecido) juntam-se outros músicos, que transformam a Banda do Casaco num dos mais inovadores projectos da música portuguesa.

O seu primeiro disco, um LP, chama-se "Dos Benefícios de Um Vendido no Reino dos Bonifácios" é uma verdadeira provocação.

Verdadeiramente com veia satírica, a banda quase não dá espectáculos ao vivo, limitando-se a gravar e editar os seus discos, com esporádicas aparições na televisão.

Em 1976, o seu segundo trabalho " Coisas do Arco da Velha" é editado e a banda prossegue o seu estilo satírico, em temas como " Morgadinha dos Canibais" ou " A Mulher do Regedor". Um verdadeiro hino torna-se a canção "É Triste Não Saber Ler".

Tó Pinheiro da Silva, hoje reputado técnico de som e, à época, membro do grupo Rock Perspectiva é recrutado como guitarrista e grava com a Banda do Casaco " Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos", no qual participa ,também, Rão Kyao tocando saxofone.

Este é o disco mais experimental desta fase do grupo. Temas como " País Portugal" ou "Geringonça" fazem deste disco ( hoje uma raridade só acessível a melómanos) um dos melhores de sempre da música portuguesa, numa votação do jornal " Público".

Em 1978, o grupo muda de editora e grava "Contos da Barbearia" que os próprios membros da banda consideram uma síntese dos trabalhos anteriores.

Após três anos sem gravar , o colectivo regressa, em 1981, com um novo trabalho "No Jardim da Celeste", que ficou célebre pelo tema "Natação Obrigatória", que chegou a fazer algum furor por conter um verso que rezava "Não há cu que não dê traque". Aparecido em pleno "boom" do Rock português, este disco tem também algumas influências dessa corrente. Como estreantes na banda estavam Né Ladeiras, vinda da Brigada Victor Jara e dos Trovante e Jerry Marotta, baterista de Peter Gabriel.

Em 1982, António Pinho abandona o grupo para ser o letrista das Doce e sai o disco "Também Eu", no qual a única voz presente é a de Ladeiras, o que nunca aconteceu até à data. "Salvé Maravilha" torna-se o tema mais conhecido do disco.

Ti Chitas, tocadora de adufe de Penha Garcia ( Idanha- A- Nova), é a nova convidada do grupo, que actua ao vivo na entrega dos "Se7es de Ouro". O grupo grava com a velha adufeira o seu último disco " Banda do Casaco com Ti Chitas", antes de desaparecer .

Com o fim da Banda do Casaco, a música portuguesa ficou sem a irreverência e as letras satíricas, que faziam do grupo um dos mais originais de Portugal.

A propósito de progressivos e afins...

...tenho aqui uma fita gravada com dois discos da Banda do Casaco. Deles só sei o que consta na fita, isto é, que os discos são Dos Benefícios dum Vendido no Reino dos Bonifácios e Coisas do Arco da Velha, ambos de 1974. Alguém de vocês os conhece? Consta serem portugueses.

23 de novembro de 2003

Postas soltas

Dezembro aproxima-se velozmente.
Arrefecem os dias, persiste a chuva. Já não há Domingos luminosos após Sábados invernosos. Nem dei pelo fim-de-semana...
Como o frio me tolhe os dedos e embota a cabecinha, solto aqui algums pequenos anotamentos, apenas:

Será que este é o Blog do SNS? Acho que não, este continua a ser o Blog do Ogre!
Mas poderiamos passar a ser. Neste momento bastava arranjar um tacho para a T e ficavamos todos, quentinhos, em família. Eu proponho desde já um: o meu hospital está a eleborar o plano para emergências, externas e internas. Procuram-se opiniões abalizadas...

Fui ver, na sexta-feira, o espectáculo do Rão Kyao, no Teatro Lethes. Este é "uma pequena e desconhecida jóia arquitectónica de Portugal", como muitos afirmam. Na sua fachada principal anuncia: Monet Oblectando, ou seja aprender, brincando (salvo erro...).
Do espectáculo em si, gostei, embora não perceba os títulos das músicas! Porquê a balada do pão e não a toada do trigo, por exemplo?

O médico dos intelectuais (mais outra potencial contratação...) lançou um post em que abordava o excesso informativo acerca da saúde, em contraponto ao deficit de informação.
Concordo neste aspecto: é confrangedor ver a facilidade com que toda a gente (políticos, médicos, jornalistas, etc...) opina sobre o SNS e, quando se espreme a coisa, nada sai. De uma forma geral, não existe em Portugal, neste e noutros domínios, informação necessária e suficiente para tomar decisões fundamentadas. Assim, todos podem opinar ao sabor dos ventos...

A moda das portas trancadas passou de Coimbra para o Pinhal Novo. Passou da Universidade para a Catequese. Um padre foi deslocado da paróquia e os seus apoiantes trancaram a porta da Igreja do sítio..., e o novo padre tem que celebrar a missa na capela mortuária! Isto não se faz...

Agora a sério...
Causa-me alguma perplexidade a falta de prespectiva com que se abordam muitos assuntos. Isto, a propósito dos acontecimentos desta semana: a visita do Bush à velha Albion, a manifestação pacifista de Londres, os atentados de istambul, os ecos da opinião europeia que, aparentemente, considera a América e Israel as principais ameaças à paz no mundo.
Como já aqui disse, acho que existe uma clara falta de prespectiva histórica na maneira como estas assuntos são apresentados. A génese, as motivações, as causas e consequências das coisas, são abordadas de uma forma superficial, olhando apenas aos condicionalismos do presente.
O grande risco, embora possa parecer exagerado, é nós não reconhecermos quem são os nossos inimigos.

O cozido

Num sítio onde sempre se comeu bem resolvi ir espreitar o cozido à portuguesa. Desgraça total. Faltava quase tudo. Quando protestámos, o miúdo que servia à mesa, de ar assustado, que provavelmente não sabe mexer um ovo quanto mais como se faz cozido, correu à cozinha, voltando com três bocados de chouriço ordinário (no sentido de rasca, sintético, do piorzinho) num pires, murmurando “O cozinheiro diz que a farinheira se acabou”.

Eu sei que isto é arredores de Lisboa. No Minho esta casa já tinha fechado, no Porto ou em Chaves a equipa da cozinha tinha sido corrida. No Algarve, que já foi assim (e pior) as coisas têm vindo a mudar muito. No Alentejo, nas Beiras, na Bairrada, impensável uma cena destas. Lisboa, com os seus três milhões de almas, é o fim da fossa a céu aberto onde desaguam todos os incapazes do resto da nação. Abrem uma loja de pronto-a-qualquer-coisa e servem quiches com sabor a nada, bitoques de palha ao pé dos quais um Big Mac é comida de gourmet, roupas da treta, objectos inúteis.

Os bons, por vezes, é pior: vão-se embora daqui. Em Sete Rios funcionou durante anos um lugar simples e esplêndido, o “Rio Minho”, onde se comia fantasticamente. Os donos regressaram ao Minho e abriram, dizem-me, um restaurante com trezentos lugares. Ao lado do “Rio Minho”, conterrâneos dos primeiros mantêm o mesmo nível de culinária portuguesa, simples mas perfeita: cabidela, rojões, carapaus fritos com açorda, vinho verde à pressão e aguardende de vinho verde produzida por eles. Resistem heroicamente – apesar da casa cheia aos almoços e ao sábado, o prédio está a cair. Espero que não se vão embora. Eu e muitos precisamos deles. E tenho de ir a Monção à procura dos outros.

É claro que se come muito bem em Lisboa e arredores. Contudo, dói ver afundar-se um sítio a que estamos ligados. É como se nos afundássemos um pouco com ele.

Ícones (II)

O primeiro disco de que me recordo era do Quarteto de Marino Marini. Tinha para aí quatro ou cinco anos, e ouvia-o misturado com o Mário Lanza a cantar árias do The Great Caruso (filme que devia ser reposto). Havia algum Bing Crosby a cantar canções de Natal, o White Christmas incluído. A seguir foi um tipo chamado Antonio Prieto que cantava o tema de um filme espanhol de fazer chorar as pedras da calçada, La novia. Havia ainda um single com a Polonaise nº 6 de Chopin e uma área do Rigoletto (Caro Nome) pela Mercedes Capsir. Passava os dias a pô-los a tocar repetidas vezes. Ainda hoje tenho alguns destes discos.

Depois fui para Moçambique. Os Beatles foram a referência óbvia de uma época. De vez em quando vinha alguém da Metrópole (para os mais novos: o nome que dava a Portugal quem estava em África) que trazia um álbum novo dos homens e era uma festa. Muito dancei eu (com onze anos) ao som do O Bla Di O Bla Da.

Liceu em Lisboa (71-75). O rock progressivo está em força, em simultâneo com o hard rock. Aprendemos a cantar e a tocar com Yes, Pink Floyd, Genesis, Emerson, Lake and Palmer, King Crimson, Van der Graaf Generator. Do lado do hard tocamos e berramos Deep Purple (tudo o que se fez depois destes são meras imitações), Black Sabbath, Uriah Heep, Hawkwind. Há ainda tempo para os baladeiros da época, alguns intemporais: Simon and Garfunkel (mais tarde, numa fase mais madura, Paul Simon a solo) Cat Stevens (tocávamos e cantávamos álbuns inteiros nos intervalos das aulas), America, Don MacLean. Um dos maiores e incompreendidos do tempo, Nick Drake (morto em 78) apenas o descobri há cinco anos e é dos que mais amo. Voltarei um dia a ele, se calhar.

(continua em próximos números)

22 de novembro de 2003

Ícones



Esta é a minha banda preferida.
Comecei a ouvi-los há muito tempo, para aí em 1977, e ainda os ouço.
Há tempos perguntaram-me:
se tinha trocado uma brisa fresca por ar quente confotável...
os meus heróis por fantasmas...
os campos verdes por aço frio...
se tinha trocado uma volta alegre pela guerra, por um papel de chefe numa jaula.

E eu fiquei a pensar...

Quem são, quem são?
Fácil...



Estórias de minha infância (7) - O homem dos desperdícios

Lembrei-me desta história a propósito das insistentes campanhas para a separação e aproveitamento dos lixos. E dos meus filhos que reclamam, insistentemente, conta a generalizada falta de consciência ecológica. Reciclar, é a palavra de ordem...
Lembrei-me que, quando era da idade deles, se fazia uma separação natural, digamos...
Havia, lá em casa, dois baldes: o do lixo e o do desperdícios.
O do lixo era para as matérias inorgânicas, lixo variado e algum papel. Plásticos não havia (sim... não havia plásticos para deitar no lixo), latas e vidros guardavam-se para qualquer coisa, não se deitavam fora.
O balde dos desperdícios era para os restos de comida. E todos os dias lá vinha o homem dos desperdícios, montado num burro, com dois enormes bidons prontos para a transfega. Não me lembro se tinha algum grito de aviso, acho que não tinha, o cheiro bastava. Levavam-se os baldes lá a baixo, ele despejava para os bidons, lavava tudo bem lavadinho e marchava para outra recolha. Enquanto se afastava, ia deixando um rasto de pequenas gotas gordurentas no alcatrão e era seguido pelo seu bando de moscas privativas.
Era tudo simples e "natural": Comiamos com gosto, os restos eram recolhidos, iam engordar os porcos das quintas das redondezas, os porcos era mortos, nós comiamos os porcos!
Depois veio o progresso e acabaram estas terceiro-mundices. Passou a haver contentores, camiões de recolha e um só balde. O homem dos desperdícios deixou de aparecer. Chamava-se senhor Zé.

PP:
Li que, quando há um acontecimento muito importante para a sociedade, toda a gente se lembra do que fazia nessa altura. Mesmo que seja muito novo, com idade para se lembrar.
Eu lembro-me perfeitamente do dia 25 de Abril de 1974. Da chegada à escola, de haver muitos pais à espera de algo, dos professores com ar preocupado, de não haver aulas. Entre nós alguns falavam de revolução mas, a teoria mais aceite, é que tinha fugido um leão do circo que passava, por Portalegre, nessa altura.
Lembro-me da à tarde, lá em casa, muita gente ouvir rádio. Os meus pais procupados se tinham que comprar comida ou não. Uma prima minha a explicar-me o que eram revoluções. E um tio meu dizer: "Agora o Paulinho já não vai prá guerra..."

21 de novembro de 2003

Outro Jaquim

Josquin Desprez (1440-1521). Comprei um cd com motetes do homem ao fim da tarde no meu antro de deboche, vício e dependência - a FNAC do Colombo - enquanto o meu herdeiro se deliciava com uma Playstation de teste.

Stabat mater dolorosa
Juxta crucem lacrimosa
Dum pendebat Filius.


Ele há músicas que nos fazem pensar que Deus, se existe, é músico.

Chuva a potes

Gosto de chuva. A sério.
Passei o dia a ouvi-la e em vez de estar de blusão vestido a apanhá-la e a ficar ensopada, no meio dos lamentos justificados dos municipes, estou em casa.
A casa é um local muito bom para se estar.
(também)
Pus as conversas telefónicas em dia, li, limpei os castiçais e suportes de velas.
Amanhã talvez limpe as pratas e os metais:)
Olho para as paredes e imagino como vão ficar com as belas estantes novas.
Desconsola-me ter que mudar os quadros todos, mas quiça talvez recrute um sobrinho para os pendurar.
Gostava de ter uma casa enormeeeeeeeeeee.........para mudar os moveis todos os dias.
Nisso dizem que saio a uma bisavó, que mudava o local do piano , quinzenalmente, com todos os adereços à volta.
Talento para tocar é que não herdei.
Nem para cantar.
Nem os castiçais ficaram muito bem limpos..risos.
O vento vai soprar forte. E a minha sala está quentinha.
E que mal fiz eu a Deus, para ir a um Viveiro de Trutas ó Gasel? eu nem gosto desse peixe..argh.
Mas adoro sardinhas:) No Verão, no Sr Gomes, com pimentos e Planalto fresquinho.
Hoje não.
Até já:)


Notas soltas

Vários blogs preocuparam-se com a manifestação de Londres, especialmente com a afluência que teve. Os prognósticos (no fim do evento, como manda a lei!) variam entre 100 e 500.000. O Jaquim desenvolve as bases científicas da questão, entrando com a largura da ponte, o número de pessoas por m2 e os passos/dados por minuto!
Eu cá proponho que, nas manifestações, cada manifestante use um dorsal numerado nas costas, tipo maratona. Assim não há enganos!

Nenhuma reflexão sobre o aborto pode escamotear o essencial: quando começa a vida? Lança o Glória Fácil referindo um artigo de Vasco Rato...
É, de facto, a grande questão: quando é que começa a vida e deixa de ser aquilo que era antes... Embora a resposta não me pareça tão fácil como lá é dada!

Disse a Paula que “A escrita, tal como o sonho e a masturbação, não exclui à partida companhia, mas pode viver muito bem sem ela.”
Esta sim, é uma grande verdade: os valiosos e valorosos actos solitários....

Fui passear ao Viveiro das Trutas e gostei. Talvez a T, a nossa pescadora de almas perdidas, pesque lá alguma... caso não saia Truta, aceita-se Sargo, Robalo ou Robalete, Besugo ou Cavala. Sardinha não, que unta os dedos!


E as nossas expectativas?!

Um dia ainda gostava de perceber esta estranha relação entre a chuva e os fins-de-semana...
É quase uma verdade matemática: semana resplendorosa, fim-de-semana chuvoso!
Passamos a semana a trabalhar(?), olhando pela janela o astro rei e sonhando com uma tarde ao sol no final de semana que se aproxima. E, quando tudo parecia não correr mal, surgem, na 6ª feira, os senhores da meteorologia e dizem que se prevê mau tempo; aguaceiros fortes no início da madrugada e blá, blá, blá...
Parece-me pérfido!

Marés mortas

Após muitos tempos de indecisões e incertezas, avanços e recuos, insónias e bocejos, tomei a decisão que vai mudar a minha vida. Parece uma coisa muito radical? Dramática, talvez? Sim, é claramente um exagero, mas era uma coisa que andava para ser feita desde há 3 anos, 7 meses e 27 dias.
E agora depois de ter decidido, fica uma espécie de "vazio". Não que não estivesse à espera, para mim é sempre assim: o caminho para uma grande decisão é como a escalada de uma enorme montanha. Chega-se lá acima, grita-se "consegui!", enche-se o peito de ar e pensa-se: "e agora...?" Ora, agora tem que se descer a montanha!
Agora vou ficar quietinho, a ver o que dá, esperar que passe a morrinha...
Estou em maré morta, as àguas não correm.

Estou como Cavaradossi:
E lucevan le stelle...
ed olezzava la terra...
stridea l'uscio dell'orto...
e un passo sfiorava la rena...
Entrava ella, fragrante,
mi cadea fra le braccia...
Oh! dolci baci, o languide carezze,
mentr'io fremente
le belle forme disciogliea dai veli!
Svanì per sempre
il sogno mio d'amore...
L'ora è fuggita...
E muoro disperato!
E non ho amato mai tanto la vita!...


Mas não vou ser fuzilado :)

20 de novembro de 2003

A biblioteca de Babel

"Como todos los hombres de la Biblioteca, he viajado en mi juventud; he peregrinado en busca de un libro, acaso del catálogo de catálogos; ahora que mis ojos casi no pueden descifrar lo que escribo, me preparo a morir a unas pocas leguas del hexágono en que nací. Muerto, no faltarán manos piadosas que me tiren por la baranda; mi sepultura será el aire insondable; mi cuerpo se hundirá largamente y se corromperá y disolverá en el viento engendrado por la caída, que es infinita."

Jorge Luis Borges, La biblioteca de Babel

A biblioteca total

"Yo he procurado rescatar del olvido un horror subalterno: la vasta Biblioteca contradictoria, cuyos desiertos verticales de libros corren el incesante albur de cambiarse en otros y que todo lo afirman, lo niegan y lo confunden como una divinidad que delira."

Jorge Luis Borges, La biblioteca total

hum.

O que sugere o Tardi?

Posta pequena

Portugal apurou-se para o Europeu de Sub-21. Ao mesmo tempo roubámos a França (doce vingança!) e a seguir, os "miúdos", escavacaram os balneários.
Hoje houve jogo em Leiria, cujo estádio apesar de não estar "totalmente" concluido, ia ser inaugurado (sic in SIC). Traduzindo: apesar de ainda estar em obras, ia-se lá jogar (Gasel in DiasQueVoam). Pouco antes do início do jogo ainda não havia banco de suplentes...

Portugal no seu melhor, a tragédia e a comédia de mãos dadas!

Posta grande

Um dia destes estava a jantar e prestei atenção a uma novela (foi por acaso, juro!...).
Não sei o nome, mas é uma destas, da nova vaga, em que se pretendem focar todas as "causas" sociais do mundo. Assim, todas as famílias e personagens têm graves problemas a resolver: alcoolismo, violência familiar, homossexualidade, guerras profissionais, ciúmes patológicos, cancro da mama, agressões ao ambiente, etc, etc... torna-se obcessivo.
O que me chamou a atenção foi uma cena, no duche, entre duas miudas lésbicas, em que elas "namoravam" educadamente.
O que pensei foi, "... se fosse um homem e uma mulher não era filmado assim", mas logo me lembrei, " ... e se fossem dois homens, então não era mesmo assim"
É confrangedor a dualidade com que, as diferentes formas de expressão audio&visual, tratam as diferentes formas se sexualidade. Se fosse um casal convencional acabariam por dar os inevitáveis beijos. As duas miúdas ficaram-se pelos sorrisos quentes. Os dois homens acho que não teriam direito a nada.
Podem dizer que isso advém dos preconceitos da sociedade, do grande público (nós!), que não estamos preparados, blá, blá... mas eu acho que isso, é uma treta: apenas reflecte os preconceitos de quem escreve, pinta ou realiza (as elites). E assim se mantém a torre de marfim inviolável, assim permanece o grande tabú.
Já uma vez aqui o disse, e repito, o que penso: o direito à invisibilidade só se adquire pela coragem da visibilidade.

19 de novembro de 2003

A vida lá fora

Na Faculdade onde dou aulas os alunos do último ano têm de fazer um estágio de algumas semanas fora de Lisboa. Vão para a província, trabalhando ombro a ombro com médicos no terreno. São alojados aceitavelmente e têm acesso a cantinas do Estado. Ocasionalmente surgem dificuldades de alojamento, alimentação ou deslocação. Imediatamente o aluno contacta os nossos serviços centrais, queixando-se destes problemas. Até aqui tudo bem. Perpassa, contudo, em várias atitudes, uma sensação de que muito deste pessoal viveu superprotegido e que, ao ver-se repentinamente confrontado com o mundo real, não tem flexibilidade mental para resolver as situações sem o recurso à Grande Mãe. Estarei enganado? Estarei parvo? Estarei velho? Mais alguém sente isto? Será que eu já fui assim e me esqueci? Podemos fazer alguma coisa a este respeito?

Está um sol espantoso e a música, neste momento, é o “Fratres” de Arvo Pärt. O único termo para a descrever é sublime.

Porque hoje é quarta feira...

... estou contente!
Não sei de onde me vem este hábito. Acho que é desde o sétimo ano de escolaridade em que não tinha aulas à tarde e, a quarta, me parecia um sábado. E hoje em dia mantém-se, também, um dia meio feriado: é o meu dia de passear pelo hospital, visitar os amigos de outros pisos, saber as novidades e tratar das pequenas merdices que vão ficando penduradas.
Além do mais é o meio da semana, o dobrar do cabo das tormentas, o avistar do fim-de-semana que se aproxima.
E ainda é (ou era...?) dias de jogos europeus e de grandiosas vitórias.
Enfim, é quarta-feira...

E porque não faço greve?
Não faço porque considero uma forma de luta ultrapassada, datada, resquícios do século XX. Porque só tem sentido quando existe um confronto directo entre os trabalhadores e os patrãos, onde se ganha ou se perde, e terceiros não são envolvidos. Especialmente no meu caso, como funcionário público, não tem nenhum sentido: O "patrão" acaba por não perder (até ganha, às tantas!), nós perdemos migalhas (1 ou 2 dias de trabalho), só os terceiros (os utentes) perdem. E especialmente, no caso dos médicos, é imoral fazer greve de manhã ao hospital e, de tarde, ir facturar para o consultório.
Há-de haver outras maneiras, mais inteligentes, de lutar pelos nossos direitos (e deveres, já agora....). Eu não sei quais são, nunca pensei nisso muito a sério mas, para isso, estarão cá os sindicatos.

E bezanas, porquê?
Porque gosto!
Gosto de cerveja, de vinho, de whisky, de rum, de conhaque, de... só não gosto é de Martini, detesto!

E para amenizar....

...podem ouvir Nessun dorma.

Até amanhã.

18 de novembro de 2003

Coração Vermelho (6) - Ódios de estimação

O meu primeiro ódio é o clube em si, como já disse!
Lembro-me que o FêQuêPê era, lá pelos anos sessenta e setenta, um clube simpático. Não ganhavam títulos, não tinham boas equipas (ou se tinham, tudo corria mal...) e levavam grandes abadas no estádio da Luz, de encher o olho. Ninguém, mas mesmo ninguém, era do Porto...
Como eles reconhecem, mal passvam a ponte D. Luís para sul, começavam logo a tremer. Que era psicológico, diziam. Eu acho que o que era, é que se borravam todos. Ouvi contar que era demais, a camioneta parava de 10 em 10 kilómetros e, mesmo assim, o cheiro começava a pesar. A partir de Coimbra, na Nacional 1, tinham que ter escolta policial para afastar os condutores incáutos. Quando chegavam a Lisboa o cheiro era pestilento, saíam tontos e verdes da camineta e depois, no jogo, era dar obra neles!
Mas os tempos passaram e veio o PdaC, o Pedroto, o orgulho portista, a mística e a cagança. Ganharam campeonatos, taças e agora são os melhores (eu não disse isto...).
Mas eu quero lá saber, detesto, odeio aquilo tudo! O equipamento amaricado, o sotaque dos jogadores e o azeite dos adeptos. O Baia de patarras, o Jorge Costa abrutalhado, o Deco achinesado e o Derlei amacacado.
O nome Antas soa-me a palavrão e FêQuêPê sai-me "foda-se, que porra!" E como não tinham um animal, inventaram esta do dragão. Dragão os tomates, isso não existe!

PP: desculpem o palavreado, mas eu saio de mim... fico o outro eu.

17 de novembro de 2003

Uma carta de 1910

Confesso que não sou grande admirador de Amadeo de Souza-Cardozo.
Provavelmente é um defeito meu, mas que se há-de fazer...
No entanto, ao dar por aí umas voltas, encontrei uma carta dele para o tio Francisco, que achei muito interessante. Cá vai:

"Meu querido tio
Estranhei a sua carta pela maneira como me compreendeu, ou eu mal me exprimi. A minha vida não é nada de contemplação, ao contrário tudo o que há de mais real, mais de facto. Nem eu sou um temperamento contemplativo, essa idade passou quando eu ia pelo Coliseu ouvir a Tosca. Não, isso permite-se numa outra idade, e se acaso não passa, é um sinal incontestável de inferioridade. Agora a minha idade é outra - resolver problemas e marchar, subir em cultura física, e espiritual e artística ao mais alto degrau, aproveitar desta vida o mais possível, pois que tudo é passageiro, e o Céu outrora prometido já não seduz os homens modernos. Em Arte estamos em absoluto desacordo. De resto, estou-o tambem com os amigos compatriotas que marcham numa rotina atrazada. Arte é bem outra coisa que quasi toda a gente pensa, é bem mais que muita gente julga. Tudo quanto para aqui se faz é mediocre, aparte raras raras coisas. Porque eu não gosto de Rodin ou Ticiano, todos me dizem que sigo um mau caminho. E porquê? Se cada um se fiasse no caminho que nos aconselham nada de mais se fazia, pois que eles, os outros, só sabem indicar-nos as suas proprias pisadas. Há gente que chama ao meu estado uma pretensão para sair for a do vulgar - que pensem o que queiram, indiferente me é - eu tenho as minhas razões e bastam. Eu sei o que agrada em geral - eu na generalidade desagrado. Até certo ponto não é menos lisongeiro.
A técnica de que fala é coisa em que nem penso. Fixar aí a ideia é parar muito aquem do fim. Qualquer aprende. Ninguém deixa de fazer uma obra de arte intensa por falta de técnica, mas por falta de outra coisa que se chama temperamento.
Enfim, para mim os tais artistas de técnica acabaram.
Não é precisamente uma exposição que vou fazer. São apenas alguns desenhos e alguns cartões que fiz aí que colocarei no meu atelier com o fim de serem visitados em intimidade e ver se vendo alguns. Tudo isto são coisas a que não ligo nenhuma sorte de importância e talvez as únicas que poderei vender. As coisas que aí fiz serão más, há porém quatro ou cinco entre elas melhores que tudo quanto fiz até então. Eu não me iludo, sei separar-me de mim para julgar. O Vianna creio que partiu para não sei onde. As coisas que expôs nessa tal Academia, a meu ver, particularmente, não são absolutamente nada. Agora outra coisa: as minhas ideias não tem relação nenhuma com a nossa estima, e espero que me julgue sempre bom amigo e grato a toda a afeição e favores que me concede. Dê um abraço à Avosinha e outro para si do seu sobrinho e grande amigo

Amadeo"

Crónica de um dia igual aos outros

Hoje foi segunda-feira, a primeira das que se seguem.

Começou mal, logo pela madrugada. Tive um sonho horrível: sonhei que tinha um pénis de três metros e uns testículos de uma tonelada. Como as baleias-frade. Ao princípio pareceu-me interessante mas, depois, tornou-se monótono, passava o tempo em casa sem me conseguir mexer. Às tantas quis acordar e não conseguia, sentia-me a ser arrastado para o fundo do sonho, como se lutasse para vir à tona de àgua e um peso enorme me puxasse para as profundezas. Acordei em sobressalto e transpirado, eram seis e trinta e dois da manhã. Fumei três cigarros (em honra do dia!) e já não domi mais.

Ás oito já tinha comido dois pratos de Nestum com mel e às nove já tinha posto as crianças na escola. Entrei de banco e aprestei-me para fazer quase nada: tenho interno.

Esqueci-me da hora de almoço e não comi. Às cinco senti o estômago a rugir e fui até à copa, onde pedi, por favor, que me dessem qualquer coisa. Deram-me um pacote de bolachas Maria, uma maçã e um copo de chá.

Às seis e meia enganei-me e fui buscar o miúdo que só saía às sete e meia. Como estava perto de um café, sentei-me para comer um café e um pastel-de-nata. Já estavam estes comidos quando me lembrei que, na pressa, tinha saído sem carteira, nem moedas no bolso. Não hesitei, saí a correr sem pagar. Já nos hospital telefonei para casa a explicar que não o podia ir buscar: não acreditaram na minha história...

Agorinha mesmo fui verificar o trabalho do interno. Está tudo em ordem, foi um dia árduo de trabalho! Sinto outra vez fome: espera-me a cabeça da corvina!

PP:
Confesso que ando atrasado com as crónicas da Inês. É que a mulher já não me estimula... tenho lido, religiosamente, todas as crónicas semanais e nada, não me sobe nada à cabeça. Nenhum clic...
Um destes dias falava sobre o relativismo (ou relatividade, não sei...) e o maniqueísmo. Só então fiquei a pereceber que este conceito não tinha nada a ver com aquele jogador caceteiro do FêQuêPê: o Manniche.
Aproveito a falta de inspiração e vou escrever um post vermelho, a dizer mal dos "Dragons"!

estava aqui a reler

nesta hora de almoço descansada, pus-me a pensar no Bairro Alto.
Ontem tive uma essão de ver fotos em casa de amigos. Algumas de há vinte e tal anos.
Éramos tão novos, magros e giros:)
Engraçados os décors....muitos são no Fidalgo, no Bairro Alto, onde eram sempre os anos dum amigo nosso.
Está tudo lá. A Moda...risos..as bezanas, os casais que entretanto se desfizeram (confesso que fiquei a olhar para o meu ex Paulo e a pensar..que bonito que era o rapaz , porra:) , as confusões. os amigos que morreram ou desapareceram.
No Bairro é um bocado assim. Vês as mesmas pessoas há anos consecutivos. Acho sempre graça chegar ao Lux e o Alfredo (velho conhecido segurança do Frágil) dizer em registo irónico, Bom dia meninas:)
Que saudades dos Pastorinhos e da boa música que punha o Eduardo e os generosos whiskys que serviam e do Frágil sem ser aquela coisa deslavada que é agora.
Depois há as multidões de grupos de putos novinhos e miúdas, todos completamente avant garde, com um ar deslumbrado de começarem a viver. E os geriatras, tipo eu, que se divertem imenso em ver todas aquelas andanças.
UMa coisa acho mal. O preço dos restaurantes estar tão inflacionado. Atendendo relação custo/qualidade de comida e de espaço claro.
Na próxima vou a Alfama jantar aos Corvos mas é.Bom mesmo!Mas marquem mesa antes, é minusculo.
De resto o Lux ao sabado é uma grande seca. São pessoas que não sabem sair.
Confesso a minha predilecção pelo Clube Naval, ali mesmo ao cais do sodré, com boa música, ar decadente e gente invulgar. Outro dia os meus sobrinhos diziam..."Quê tia??? Clube Naval?? Gostas??"
Resultado na próxima vamos todos juntos.
Uma vez fui com eles e um grupo de amigos ao Incógnito. Dizia uma amiga da Mariana muita bebida, " É assim esquisito, quer dizer, podias ser minha mãe e estás aqui a dançar com a gente e a beber copos". E eu compreendi-a perfeitamente. Quanto eu tinha 20, achava que uma pessoa de 40 era para estar em casa sossegada a ver Tv:)
Enfim...o tempo voa mesmo.
Ainda estou a pensar no ar angelical que tinha nas fotos....Caraças!


Já que falamos de pintura...

...cá vai um dos quadros da minha vida. Não me perguntem porquê.



Ainda hoje este Amadeu de Souza Cardoso não tem o prestígio que merece. Nem ter morrido lhe adiantou grande coisa.

PS - Eu sou mais: o que raio acontece nesta cozinha? É como olhar um cemitério. Vultos. Mas aqui há prazer e ainda está quente. Talvez a palavra seja aconchego, simsim, apesar do ar sombrio - pontiagudo - e até frio - só aparente - que aquilo tem.

16 de novembro de 2003

Domingo à noite (II)

"Depois do temporal de sábado, o domingo nasceu claro, límpido, com um sol morno de Inverno...". A manhã começou como em alguns domingos: pequeno almoço no café da esquina (galão de máquina, croissant com fiambre e sumo de laranja) mais a leitura do "Público". Às dez, entrada de serviço: 143 doentes (uns mais, outros menos) a dividir por dois em doze horas. O país está ranhoso, dói-lhe o corpo e dói-lhe quando engole, tem tosse seca e o nariz entupido. Este post deveria ter como nome alternativo "O triunfo dos vírus". Coisas tão pequeninas que nos lixam em toda a linha. Eu mesmo estou algo rouco, entupido e a tomar algumas das pastilhas que receitei. Alguns desejaram-me as melhoras ao sair do consultório. A solidariedade também tem destas coisas.

Domingo à noite

Depois do temporal de sábado, o domingo nasceu claro, límpido, com um sol morno de Inverno que durou até ao entardecer. E assim se passou mais um fds...

Este acabou por ser dedicado ao cinema.
Ontem fui, com a família, ver um filme familiar: O Amor Acontece. É uma comédia tipicamente britânica, com o habitual pendor romântico, onde tudo acaba bem. Mas não deixou de ser interessante assistir aos diálogos em português, sentir uma secreta cumplicidade, como que, certas partes do filme, só nós percebessemos. Hoje fui com o miúdo ver o Matrix. Bem... como não vio o II, acho que me escapou muita coisa. Ou será que não?

Ontem ao jantar comi peixe assado no forno, cá em casa.
Como a ocasião o pedia, decidi abrir uma garrafita de Barca Velha (91). Foi uma noite memorável! O pior é que, como somos maus comedores, sobrou apreciável quantidade de peixe e hoje lá tivemos que nos haver com ele, requentado no micro-ondas. E ainda tenho a cabeça para descascar amanhã...

De resto, dormi bem e procurei fazer o menos possível.

Ao ler a T, a falar do Bairro Alto, lembrei-me da minha juventude.
Nestes tempos que correm a pedalada baixou consideravelmente e limito-me a incursões pontuais na Rua do Crime. Bastante pontuais, a sério, não mais que duas ou três por ano mas, como sou um abusador, geralmente acabam em bebedeiras valentes, valentes a sério (do tipo não-saber-onde-está-o-carro-na-manhã-seguinte). É fácil ver que o dia seguinte é terrível, costumo jurar que nunca mais...

Não consegui escapar às notícias da inauguração de mais um estádio de futebol.
Apesar de gostar de futebol, venho juntar a minha voz aos que acham que isto é um exagero. Cada novo estádio que se inaugura, é o melhor da europa, são projectos inovadores e maravilhosos, são progressos inimagináveis para a zona e para a cidade, o país avança e engrandece... Bolas, são só campos de futebol. O resto está tudo na mesma!
Resta esperar que acabe a euforia e a poeira assente. Entretanto, como o estádio aqui da zona vai ser o último a ser inaugurado, ficaremos (oficialmente) com o "Melhor da Europa". Pelo menos...
Já agora, e soltando a minha veia vermelha, aquilo de estádio do dragão é uma mariquice... ou melhor, uma chinesice. Soa a Pagode do Dragão Azul!

PP:
Abertura do telejornal da TVI. Imagens, monótonas, de um avião e uma ambulância. Uma jornalista relata a chegada da MJR. Durante cerca de 8 penosos minutos, dispara uma lengalenga em que repete as mesmas coisas, cinco ou seis vezes. Foi emocionante.

PPP:
Aquilo da Barca velha era treta. Foi um Monte Velho de 2002...

Sabado à noite.

Skye

A Maria disse que não gostou de Skye. Eu adorei. Segue abaixo uma das razões. Um dia destes talvez fale de Portree e de uma solha assassinada.

Acerca de Botero

De facto, não odeio Botero.
Ou, sendo mais correcto, praticamente não conheço Botero. Até pensava que era Espanhol...
Cada dia que passa, mais coisas vou aprendendo. Deve ser um problema da idade!
Lembro-me de sempre pensar que, quando estivesse às portas dos quarentas, já no século XXI, não precisaria de aprender mais nada... pois!
Bom, o dia foi estenuante ( coff, coff ), depois de sair da casa de banho, emitirei uma opinião mais fundamentada.

15 de novembro de 2003

Só uma notinha...

Sou voyeur, assumo...
Por isso não sigo os conselhos da T e ando por aí, à espreita de outros blogs.
Vários falaram das virtudes (ou não) de se ser anónimo ou não.
Concordo com o Senhor Carne, que é membro da Liga dos Cavalheiros Pipianos:

Nisto dos blogues, tenho vindo a reparar numa coisa que se vai afirmando com o tempo: OS BLOGUES MAIS GENUÍNOS E INTERESSANTES SÃO OS ANÓNIMOS (e isto na sequência do que aqui já escrevi sobre o anonimato).
Os blogues das personagens mais mediáticas da blogosfera são de uma secura e sensaboria confrangedora.
Talvez porque os leitores estejam à espera de mais, de uma singularidade que legitime a mediatização que se lhes confere. Mas os gajos limitam-se a escrever banalidades, vaidades e a comentarem-se uns aos outros. Ora, se isto é blogar eu vou ali e já venho!...
Sinceramente, acho que os "mediáticos" já prestaram o único serviço que poderiam prestar à blogosfera (dar-lhes publicidade e a relevância mediática, colocando-a na ordem do dia). Agora, das duas uma: ou blogam como deve ser (i.e.: escrevem os disparates que só a blogosfera comporta, alimentando um espaço único de expressão pessoal livre e desregrada, auto-limitada só por parâmetros de bom civismo (que, em geral, parece funcionar); ou então que se limitem a escrever os seus posts xaroposos nos jornais (já que o podem fazer, ao contrário da maioria dos blogueadores). Começo a dar razão a algumas coisas que o Pedro Rolo Duarte (ou Duarte Rolo Pedro, ou lá como se chama) escreveu no seu caderno. O gajo acertou em duas ou três coisas ( e errou noutras...).
Um bom blogueador é, antes de tudo o mais, um blogueador anónimo.
Mainada!...


Até já!

Lux - "O Melhor da Vida"

Estive a folhear uma Lux que encontrei aqui em casa:

Queremos ter mais de dois filhos” (Letizia Ortiz)
Caí em casa e parti o braço” (Margarida Marante)
Gosto do campo mas sou muito mais urbana” (Maria de Rosário Paes)
Se eu fosse milionária comprava uma orquestra” (Margarida Rebelo Pinto)

São tudo frases espalmadas num enérgico e colorido bold, sem que eu consiga perceber o verdadeiro interesse de qualquer uma delas.
Talvez eu seja anormal, mas acho que é um problema que estas revistas se vendam.

"Lux O Melhor da Vida" é o nome + slogan da revista.

Vamos mudar de pintor:)

E quem odeia Botero?

Outro quarto



Edward Hopper


Voltando ao início, ao quarto...
Estará triste, a chorar... ou apenas cansada?
Que aconteceu ao livro?
Que aconteceu à roupa?
Porque não mudamos de pintor?

14 de novembro de 2003

O crepúsculo

Fui pela segunda vez a Beja ao fim do dia. A aproximação entre Ferreira do Alentejo e Beringel e, sobretudo, entre Beringel e Beja, não cessa nunca de me espantar. A luz é invariavelmente violeta. O sol está por trás de nós e tudo brilha em tons de violeta. Os campos e as árvores são violeta. A lua, quando está alta, é violeta.

O fim do mundo devia ser assim. Em tons de violeta.

Coisas daqui e dali...

Houve alguém que se enganou... e disse a verdade!
Mas logo se levantaram várias confrarias e misericórdias, damas impolutas e pais ofendidos se fizeram ouvir: isto não pode ser!
Após muitas notícias barulhentas e algumas manifestações silenciosas, o autor do engano veio dizer que sim, que era engano: Eu só penso assim, mas não o devia dizer... nunca mais digo!
Mas eu, EU, digo! Digo aos cinquenta e tal que vêm aqui, em cada dia que voa: Os bombeiros não sabem apagar fogos! E mais, os juizes não sabem julgar, os professores não sabem ensinar, os advogados não sabem advogar (sem truques de algibeira), os médicos não sabem curar, os polícias não sabem prender, os jornalistas não sabem informar (alguns nem falar...) e os governantes não sabem governar.
E o que não sei, é se a falta de meios justifica a incapacidade pessoal, ou se é esta incapacidade que origina a falta de meios.
Mas, pensando bem, se ninguém sabe bem o que faz, nunca vai saber o que os outros não fazem...

Depois de tantos dias de interrogações e angústias, sobre os riscos da missão da GNR no Iraque, esquecemo-nos do essencial. O verdadeiro perigo eram os jornalistas!
Numa organização à portuguesa, com os habituais "venham daí que logo se vê", os intérpidos jornalistas foram dar um passeio matinal pelo deserto. A coisa acabou mal.
Num dos telejornais um jornalista (português) da BBC explicou como é que se fazia: colunas bem preparadas, segurança privada, jornalistas treinados!
Noutro telejornal, a Maria João explicava onde foi atingida: "Ahhh na coxa, onde acaba a perna e começa a nádega... ahhh no rabo!" Afinal não foi na perna!
No telejornal que falta, o porta-voz da GNR, altamente constipado (sic), foi generoso em lugares-comuns sobre a crise. Que ficamos a saber? Nada!

O Barnabé é um miúdo que anda por aqui, na blogosfera. Entre algumas coisa acertadas que lhe escapam, é perito em lançar atoardas. Um destes dias, na ânsia de criticar o TGV, lançou esta afirmação memorável:
O TGV demora 150 quilómetros a chegar à velocidade máxima. Demora 50 quilómetros a travar. É caríssimo na manutenção.
Alguns bloggers mais esclarecidos contestaram a afirmação e ele começou logo com a ladainha : "Fascistas! Facistas!... É uma cabala!". Algum dias depois, fez o mea culpa:
Cometi, aqui no blogue, um erro grosseiro ao escrever que a distância que o TGV precisava para chegar à velocidade máxima era de 150 km. Fui enganado por uma consulta excessivamente rápida, tipo TGV. É bem menor: é de 20 a 25 km. Já o tempo de travagem necessário estava correcto: é de 50 km, dado o peso comboio.
Ok, é bonito! Mas só me espanta não reparar na enormidade do que estava a afirmar, 150 km é obra... Fico a aguardar a correcção do "tempo" de travagem.

Ao ir parar ao blogómetro, uma coisa me saltou à vista!
Dei por mim e estava a pensar: "mas o que é que seiscentas e tal alminhas vão fazer, em cada dia, à Bomba Inteligente?"
Não percebo, sinceramente... até pode ter sido um bom blog mas, pelo menos nos últimos tempos, limita-se a publicitar alguns blogs amigos, lançar posts indigentes e elogiar o pipi mais o seu famoso livro (que ela publicou...).
Mas o que é que lá vai fazer aquela gente toda?

Parece que o Alexandre nos deixou... pelo menos nas entre-linhas. Mas pela entrevista que deu na Tasca da Cultura, ninguém diria.
Aliás, vendo com mais atenção, alguns blogs (famosos até) parecem estar abandonados. Será que soltámos o ogre?

PP:
E não é que depois de tanta gente a defender a bondade da famosa recepção no Parlamento, vem o Ferro dizer que foi um erro... Ora bolas, estou-me a cagar!

PPP:
E será que até os bloggers, não sabem blogar?

Eu não vos dizia...

O post da T. Vem reforçar a minha teoria...
Até no Iraque!
Atentados, raptos, noticias, directos e um sem acabar de comunicados. Se não há noticias, passamos nós a ser noticia! tudo em prol da guerra de audiência...
Portugal está na moda!!

E o Iraque...

Desculpem mas não resisto.
Estou a imaginar o José Eduardo Moniz aos berros, de telemóvel em punho a gritar com os desgraçados dos seus enviados no Iraque: "Ó seus burros!! Porque fugiram???? Agora não vamos ter o EXCLUSIVO!!!! Voltem imediatamente pró Iraque e resgatem o outro gajo!!!!"
Com sorte ,talvez consiga negociar um contrato de transferência de estação, com o pobre raptado. E aí sim. teremos a TVI no seu melhor!!!

Dias e mais dias

Ando espantada com esta minha capacidade de fazer coisas.
Cumpro programas de actividade à risca.
Não procrastino. Chego à noite com um sono imenso é certo. E acordo às 4 da manhã a achar que é a hora de jantar.
Digamos que ando com os horários desapertados.
E agora chega o fim de semana:)
Outra listagem de tarefas:)
Gerir o tempo é uma grande aventura para mim.
Sinto que estou em tempo de mudança. Mas o que isso quer dizer, não sei.
Portanto aguentem-se com os meus 240 à hora...
E como é devido, beijos e boa tarde:)

Ainda o Hopper

E por quem espera esta casa?:)

A primeira noite

Lá fora as luzes de sódio dão ao nevoeiro uma tonalidade soviética pré-queda do Muro. A uma hora destas só mesmo as empregadas de limpeza que regressam do turno do fim do dia e os cantoneiros da câmara. Enroscado em mantas, ao virar da esquina, está um grupo de ucranianos e afins que a partir das oito da manhã arruma carros. O vinho de hoje não os deverá aquecer o suficiente. É nestas alturas que acho que sou um tipo com sorte.

Noite profunda
O som da água
diz o que penso


(haiku de Goshiko)

13 de novembro de 2003

Estórias da minha infância (6) - O meu corredor

O corredor da minha casa era enorme. Era enorme, comprido e dava a volta à casa toda, dava caminhos para todas as cinquenta e oito divisões.
Além de enorme tinha uma outra qualidade muito especial, transformava-se. Umas vezes era um lindo estádio de futebol onde jogava eu ou os meus bonecos. A relva era verdinha, as bancadas bem empinadas, cheias de gente que gritava o meu nome em surdina. Outros dias era um cenário da mais terrível batalha, da maior e mais espectacular guerra, outros pista de carros de corrida, outros ainda um mar ou uma piscina.
E tinha móveis e estantes, cheios de livros e revistas. Tinha recantos escuros e janelas claras. Tinha ainda o arquibanco, comprido, de pernas esguias e costas altas, por onde se podia delizar por cima, ou esconder-me em baixo. Era o esconderijo ideal de todos os dias.
Num desses recantos estava o telefone, lugar quase sagrado. Era o 818, lembro-me bem! levantava-se o auscultador e logo se ouvia uma voz:
- Que número deseja?
- Ligue-me ao 344, se faz favor...

Ou quando não se sabia bem:
- Queria ligar à D. Floripes, se faz favor...
- A D. Floripes da rua do Pirão?
- Não.. a senhora que é costureira e mora na rua do Cano..
- Ahh, sim.. só um minuto!

E lá vinha a ligação.. ou não vinha, às vezes!
Muitas vezes conhecia-se a telefonista e davam-se um, dois (ou dezoito) dedos de conversa. A mim, perguntava-me sempre se a minha mão sabia que eu estava ao telefone!
Agora, não sei porquê, tiraram de lá esse corredor. Está lá outro, parecido, mas é pequeno, acanhado, sem espaço e atafulhado de monos... e não se transforma!

PP:
Ao ler a dúvida da Lau, lembrei-me de um post do Avatares. Por isso o transcrevo:
"A propósito de um recente post, colocaram-me aqui uma questão acerca da profundidade da pergunta "estás apaixonad@?" A pertinência da perspicaz interpelação parte desta ideia: " Apaixonar vêm de paixão. É paixão a mesma coisa que amor?"
Não acho que sejam a mesma coisa, portanto, tomemos essa distinção clásssica como ponto de partida. De facto é verdade que apaixonar vem de paixão, mas eu penso que o lastro simbólico e afectivo de uma "pessoa apaixonada" não corresponde à ideia de paixão em sentido estrito. Contra qualquer possibilidade de pureza etimológica, a palavra "apaixonad@", no meu entender, encontra-se já permeada pela invasão do amor. É um étimo andrajoso, saiu de casa, contaminou-se nas suas apropriações. Enfim, apaixonou-se pela palavra "amor". A "paixão" está mais circunscrita, cálida, mas empedernida na ideia de arrebatamento fugaz.
Acredito, por isso, que a resposta positiva à pergunta "estás apaixonad@?" nos compromete para além da assunção de uma paixão."


E que mais? Nada por agora, vou "marear"!




Mas é mesmo a percentagem.. vá

Que percentagem de fé há nas pessoas que se dizem amantes? Até quer percentagem podemos ir?

Sei de casos em que o amor é, realmente, fé.

Confunde-me. Assusta-me. Encanta-me.

PS - Isto está assim um bocadinho piroso, não está? Agora que já tenho pc outra vez prometo voltar aos posts armados ao pragmático. Ufa. Desta é que deve ser.

Ena!!

Temos uma nova postadora de mérito. A R:)
Foi a ferros mas veio:) E ela escreve bem como tudo:)
E outra novidade, o abs vai participar também:)
Boa!!!

PORTUGAL ESTA NA MODA...

Ok, já todos percebemos que o nosso jardim à beira mar plantado está na moda. Desde a Expo; passando pela candidatura ao euro 2004 - que originou o antes, durante e depois; pela cimeira das Lages; a novela casa pia; o segredo de justiça e, não esquecendo, o caso Bragança.
O mundo descobriu o caminho para Portugal. Longe vão os tempos em que as caravelas partiam à descoberta de novos mundos!
Por muito bom que isso possa ser para a economia do pais, etc, etc, etc....
Meus amigos, já me começa a faltar a paciência para tanta visita de estrangeiros a querer ver os serviços, o que fazemos, como fazemos, como nos preparamos... BASTA!! Basta de coreanos, japoneses e chineses a quem fazer apresentações de PowerPoint em inglês! Se querem vir aprender como fazemos, aprendam 1º a falar português, digo eu!

TILT

Fiz um exame chamado TILT. Gasel saberá como é. Depois de 40 minutos de normalidade, leves tonturas, lá se vai a visão e desmaio. Acordei com formigueiros alarmantes no corpo todo, pensei que estava a sofrer, lembrei-me que desmaiei, o crânio parecia dois tamanhos muito pequeno para o meu cérebro inchado, e desde então que estou com uma dor de cabeça que parece durar três dias, e que não me deixa vir aqui poetisar a minha desgraça com o meu melhor português, tanto para aqui como para o meu blog, e digo simplesmente: estou com uma fenomenal dor de cabeça... desde as 10 da manhã!

Dias de cursos

Dar formação a 27 mulheres juntas é obra.
Nem um homem!!!
E não imaginam a falta que os homens fazem para as mulheres pararem de cochichar:)
Fico nostálgica das antigas técnicas repressivas pedagógicas. Mas fazer isso a adultas?
Uma varinha!!! Era bem bom:)
E depois , vou desopilar para o cabeleireiro..mais 30 mulheres:)
Em suma, dias femininos no seu pior.
Vou esforçar-me por estar bem disposta..risos...
Bem, já notei que o ogre engolidor de escrevinhadores deste blog anda activo.
E não se pode exterminá-lo?
Beijos.

Nighthawks



Hopper, Edward

Os dias voam céleres e, rapidamente, chegamos à noite.
Estou na dúvida sobre a melhor tradução: predadores da noite ou caçadores da noite. Ou será outra?
Afinal de contas, foi para aqui que ela veio!
Quem está com ela, o marido, o amante, o pai, um qualquer anónimo?
Que bebida vai beber?
Para onde vai depois?

PP: ando com muito trabalho, demais... Queria até escrever a história do meu corredor mas, como não tenho tempo e, quando estive em Madrid, conheci este artista no Thyssen, vou inventando uma história. Razão, tem a minha mãe, em não andar em elevadores!

12 de novembro de 2003

Míscaros

A receita de hoje é míscaros estufados, é deliciosa


Ingredientes:

1 kg de míscaros
Uma laranja
Uma colher de azeite
4 dentes de alho
Uma colher de manteiga
Sal e pimenta

Corte os míscaros em fatias.
Aloure o alho bem picado em azeite, em seguida deite os míscaros para dentro do tacho.
Esprema o sumo da laranja para cima dos míscaros e tempere com sal e pimenta. Adicione a colher de manteiga e deixe cozer até os míscaros ficarem tenros.
Servir quente acompanhado de um bom vinho tinto (de preferência Dão ou Douro)

O Corredor (?) II

"O corredor" da T fez-me pensar em quando eu era muito novinho. "Novinho" só não chega porque me diriam que ainda sou. Talvez excepto a Amélia que não anda muito distante de mim, ao que me parece. Até comprou bilhetes para Mars Volta... mas enfim. Quando eu era mesmo pequenino. Não devo muito à memória, não lhe posso confiar as coisas, é terrível, acredito que uma memória tão fraca como a minha enerve as pessoas. Não tenho culpa. Mas é verdade é que sempre que entro numa discussão minimamente longa me esqueço de algumas coisas que disse ao início. Mas de quando eu era pequenino ("pequenino" já chega só por si porque sou grande agora) lembro-me de infantários. É das memórias dos infantários que me lembro de ser um miúdo sociável mas, ainda assim, passei algum tempo sozinho que nunca me lembro de lamentar. Cresci assim, a balançar o tempo que passo comigo com o tempo que passo com os outros. Penso que preciso de ambos, e o tempo que passo comigo é tão mais intenso e mais real que... que às vezes penso identificar-me só comigo. Talvez me passe um dia. Um dia quando tiver que pagar contas e não tiver escolha senão assumir responsabilidade. Os adultos de hoje não esperam por mim. T, Gasel, etc, já não vão ser adultos comigo quando me sentir adulto (serão sábios.) =). Não interessa. Sempre me senti um núcleo centrado numa esfera de vazio que me separa dos outros. Entre mim e o mundo, sempre uma barreira de silêncio. E, ainda assim, tudo não deixa de ser uma confusão.
Depois do Corredor da T, o comentário do Gasel. É verdade, fiquei a pensar...

Não gatinhava como um gato pelo quarto, mas conta a família que esfregava todo o chão da cozinha com uma torrada que depois gostava de comer.

E....

Como se chama este mar?

Carruagem de combóio



Hopper, Edward

Parece-me ser a mesma mulher...
Será o mesmo livro?
Vai par o hotel ou regressa a casa?

11 de novembro de 2003

O corredor

Era tão pequena que cabia debaixo da mesa á vontade….era uma sala de jantar de móveis pesados e sólidos e pés escavacados de muitos pézinhos de crianças e de adultos se apoiarem.
Era quadrada como se querem as mesas.
Aí eu sentia-me a abrigo Levava alguns pertences. Uns bonecos puídos, de papel e de borracha. .depois mais tarde os livros .Mas quando comecei com necessidade daquele aconchego, acho que nem sabia o que eram letras.
Lembro-me que foi aí que pensei pela primeira vez em termos abstractos. .que eu era eu... e diferente dos outros .Que eu existia. Que eu pensava. Lembro-me que fiquei surpreendida.
Nunca antes tinha analisado o que era estar a viver.
Acho que nesse dia fiz muitas perguntas sobre tudo à minha irmã, Menos sobre o que me interessava verdadeiramente, perceber porque eu era diferente e sozinha.
Porque quando comecei a perceber que era eu, começou o sentimento de perca…
Estranho não?
Acho que foi nessa altura que deixei de dormir no quarto dos meus pais e passei para o da minha avó .
Era uma casa com muita gente.
Do quarto dos meus pais, lembro-me exactamente de sair da cama de grades, trepar por um braço estendido, a ele agarrar-me ,subir e adormecer pacificamente. A minha mãe contava que eu parecia um gatinho .Quantas vezes me tirava, quantas vezes eu voltava, sempre de mansinho.
Lembro-me do cheiro da cama, do sabor e do calor .
Ainda hoje para dormir bem , tenho que sentir alguém da minha beira, uma respiração e um braço, para a ele me agarrar ou tocar simplesmente.
No quarto da minha avó, espalhava os brinquedos todos pela cama. Ficavam a contar-me histórias.
E fugia pelo corredor comprido e ficava à porta da sala se me deitavam demasiado cedo .Eu era muito silenciosa…..Encontravam-me a dormir no chão, meia com pesadelos das histórias do Homem Invisível da TV, ou outras séries cujas vozes me assustavam.
Mas eu queria estar com os outros todos na sala. Até as cadelinhas lá estavam. E a casa era grande e escura.
As tábuas do soalho rangiam e eu lembro-me sobretudo do chão. Frio e liso, de madeira encerada.
Mais nada.


dias minúsculos

Dias de sol...só para estragar o efeito invernoso à moto do Gasel Manuel.
Sono muito sono....
Muito trabalho acumulado e acelerado. Formação a montes de professoras..e azar meu TODAS mulheres.
Jantar com amigos....sempre bom e calmo.
Muitos livros para ler. Gosto de ter pilhas gigantes à minha espera.

Ai e pensar nas prendas de natal..ir à Habitat e despachar o assunto por grosso e depois dedicar-me às particulares.
Tratar de ir buscar roupa . Cartão do ginásio.
Desdobrar o rol de tarefas:) Uma a uma fazem-se.
Que preguiçaaaaaaaaaaaaa.........
Vou abrir a janela e deixar entrar o sol todo.
Que se lixe o pc:)
Beijos.



O que eu sou (6) - um motard no Inverno

Andar de mota no inverno já tem mais que se lhe diga.
O frio aperta, o vento corta, a chuva assusta...
Mas quando sou, sou mesmo, e recuso-me a arrumar e tapar a mota até que as andorinhas voltem. Agasalhado de blusão, lenço e luva continuo a acelerar. E até mandei por um vidro mais alto, o que me permite alcançar a estonteante velocidade de 135 km/hora...
E todos os dias, quando ando de mota, passo pelos mesmos sítios. Mas, em todos esses dias, vejo coisas novas, cheiro coisas novas, sinto coisas novas. Coisas simples, casas, pessoas, o som do trânsito, o cheiro de escapes e óleos, coisas antes completamente insuspeitadas.
E é uma condução mais introspectiva, digamos. Não há rádio, música ou pessoas no banco do lado, sou só eu, mais eu e a mota. O dueto (quase) perfeito!

10 de novembro de 2003

Polícias do mundo

Tenho trocado algumas ideias, e pensado um pouco, sobre o papel que os americanos se atribuem a si próprios. Um tema em voga...
Estranho essencialmente o facto de tanta gente estranhar o seu pendor para polícia-do-mundo.
Estranho porque essa sempre foi a função de algumas nações e povos. Parece-me ser uma condição inerente ao desenvolvimento e preponderância quer no campo económico, quer no cultural. Ou seja, se uma nação adquire determinada relevância, tende a fazer tudo para manter o status-quo.
Sempre assim foi, desde que o mundo é mundo, desde que começou a globalização e os horizontes dos povos se alargaram para além do seu pequeno umbigo.

Começando pelos romanos! No fundo a sua expansão iniciou-se por motivos económicos: as Guerras Púnicas com Cartago visaram essencialmente o domínio do comércio no Mediterrâneo ocidental. Dominado este, já agora também se domina o oriental e, de caminho, vai-se à fonte da cultura: a Grécia. Depois houve que pacificar as regiões envolventes, e então dominaram-se os bárbaros.
Desta forma, e durante mais de quinhentos anos estes romanos foram os polícias-do-mundo, de todo o mundo que conheciam e lhe chamavam Mare Nostrum.

Caído o império vieram as modas das religiões. Cada qual queria ser o policia-do-mundo através da supermacia moral da sua religião, enquanto, lá bem no fundo, lutavam para dominar as principais vias económicas desse mundo que se ia alargando. Assim o Papa de Roma lutava contra o Imperador do Sacro Império Germânico, pela autoridade no ocidente. Ambos se uniram contras os Patriarcas de Constantinopla, senhores do Corno de Ouro. E todos combateram a nova ordem mulçumana que vinha de leste.
Durante centenas de anos ninguém conseguiu esse tal papel de polícia-do-mundo e, talvez por isso, existiu a Idade Média.

Com os Descobrimentos de novos mundos chegou a vez dos Ibéricos (nós!). Esses fizeram o que ninguém fez, reuniram-se nas Alcaçovas e em Tordesilhas e dividiram o mundo ao meio: nesta metade mandas tu, nesta eu! Extraordinário... Para nós foi sol de pouca dura, era claramente areia demais, de modo que achamos por bem dedicarmo-nos ao que fazemos melhor: uns biscates aqui e ali.
Os Castelhanos não e, com Carlos V e Felipe II, foram verdadeiros polícias-do-mundo. Até que numa madrugada de 1589 tudo foi ao fundo, ali para os lados da mancha...

Tinha chegado a hora dos Britânicos. Com a sua famosa armada e, a não menos famosa, rede comercial lançaram-se à conquista do planeta. Encontraram pela frente a França, escudada na sua superior cultura e no iluminismo do Rei-Sol. Esse explêndido embate atingiu o seu máximo com Napoleão: o terrível choque entre a enorme potência marítima e a grande potência continental. Ganharam os ingleses, como se sabe, e em todo o Século XIX policiaram o mundo.

O século XX trouxe-nos de novo uma potência continental, a Alemanha, rapidamente destruida em duas curtas guerras mundiais. Foi precisamente nessas guerritas que surgiram os tais americanos, até então entretidos a desbravar o Far-West e a matar Indios e Mexicanos. Com a Segunda Guerra Mundial e o fim do Impéro britânico tudo se alterou, duas novas potências disputaram o tal papel de polícia: a América e a União Soviética. Sabe-se quem ganhou e, diria eu, teremos que os gramar durante uns anitos (quiça todo o século XXI...).

Isto só para dizer que, aquilo que os americanos fazem agora, já todos o fizeram ou tentaram fazer. É apenas defender a sua visão das coisas e a sua maneira de estar no mundo.
Mundo que agora é enorme mas, e ao mesmo tempo, cabe dentro das nossas casas.

Caro senhor Abs

Como angariadora-mor deste blog, segundo o ilustrissimo Gasel, venho convidá-lo a postar connosco.
Queríamos muito aprender sobre whisky:)
Precisamos apenas do seu e-mail para o convidar e claro, que aceite este desafio:)
Se quiser mande o seu endereço para o canjinha@hotmail.com.
Obrigada.
De resto...estou aqui feita barata tonta a trabalhar..a vida é dura:)
Beijos, logo escrevo como deve ser. Ou então asneiro:)

histórinha para embalar

O Coelhinho Que Nasceu Numa Couve

Era uma vez um coelhinho que nasceu numa couve.
Como os pais do coelhinho nunca mais aparecessem, a couve passou a cuidar dele como se do seu próprio filho se tratasse.
Com ervinhas tenras que cresciam ao seu redor, a couve foi criando o coelhinho dentro do seu seio até que este passou a procurar a sua própria alimentação.
O coelhinho, que tinha um coração muito bondoso, retribuindo o afecto que a couve lhe dedicava, considerava-a como sua verdadeira mãe.
A mãe couve e o seu filhinho adoptivo foram vivendo muito felizes até que um dia uma praga de gafanhotos se abateu sobre aquelas terras.
O coelhinho, ao ver que aqueles insectos vorazes devoravam tudo o que era verde, cobriu com o seu próprio corpo o corpo da mãe couve e assim conseguiu que os gafanhotos pouco dano lhe fizessem.
Quando aqueles insectos daninhos levantaram voo, os campos em volta passaram a ser um imenso deserto de areias e pedra.
O pobre coelhinho, que sempre tinha vivido nas proximidades da sua mãe couve, teve de deslocar-se para muitos quilómetros de distância a fim de procurar comida.
Mas já nada havia que se pudesse mastigar naquelas terras.
Passaram muitos dias e o pobre coelhinho estava cada vez mais magro, mais magro e faminto.
Então a mãe couve disse-lhe assim:
- Ouve meu filho: é a lei da vida que os velhos têm de dar o lugar aos novos; por isso só vejo uma solução: assim como tu viveste durante algum tempo no meu seio, passarei a ser eu agora a viver dentro do teu. Compreendes, meu filho, o que eu quero dizer?
O pobre coelhinho compreendeu e, embora com grande tristeza na alma, não teve outro remédio, comeu a mãe.

Pedro Oom in "Actuação Escrita"

PS: eu sei que o desenho é duma ovelha, mas chama-se "coelho"

Domingo ao serão

O Domingo correu rápido.
É uma coisa que noto desde há uns anos. Geralmente não faço nada de especial para isso mas, mal dou por mim, o Domingo passou rápido, rapidíssimo. Se há dias que voam, o Domingo é de certeza um deles.
De manhã até fui bater umas bolas no driving. Faço-vos notar que consegui progressos notáveis: praticamente não falho bolas e, pelo menos algumas, vão direitinhas até cerca de oitenta metros...
Depois atrazei-me e faltei a uma aula de marinhagem: assim não pude treinar atracagens na famosa barcaça do Clube Naval. Como estava a chover até achei que não tinha sido mau de todo.
Ao almoço comi demais. Depois de almoço descalcei os sapatos, desapertei as calças e afundei-me no sofá. Olhei para a televisão e arrotei abundantemente.
Às tantas, o meu filho tanto insistiu e lá me arrastei, penosamente, para pintar uns bonecos da Wharammer.
Ao jantar fiz dieta.
O serão animou-me! O Benfica ganhou e o Porto empatou... boa!
Agora estou por aqui, a ver as novidades.

PP: O Orlando volta em forma. Aproveito para informar que tenho trinta e nove anos, se isso quer dizer alguma coisa. A T. continua também em forma... e não para de angariar escrevinhadores. Que venham muitos e que, de preferência, aguentem mais de um mês! :))

9 de novembro de 2003

Bem vindos.

Eles próprios já se apresentaram, mas....
O João e o Manuel, dois novos escrevinhadores aqui nos dias.
Dois bons amigos .
De certeza que os dias vão ficar mais animados com as fotos do João e a promessa de asneirar do Manuel.
Gosto de vos ter cá:)

The Talk Of The Town

Pois então: eu não falo francês, por isso não sei que elogios é que se fazem ao uisquí. Também não estou tão iluminado quanto o sobrinho da Tê, apesar de estar inflado além da conta. Dos meus avôs e avós... o avô italiano morreu antes que eu nascesse, e a avó italiana, essa me cantava o Mazzolin di Fiore e desenhava garatujas, porque era analfabeta. E a língua que falava, um vêneto enxertado de português aqui e ali, só eu entendia. O avô mineiro morreu quando eu tinha dez anos. Era magro, magro de dar dó; usava chapéu de palha, pitava cigarros de palha, não tinha dentes e sorria muito. Uma vez me deu cinqüenta centavos e disse: "vai comprar uma broa de milho". Comprei, comi, e quase o esqueci. A avó mineira, essa ainda vive. Sua mãe era índia, dos lados do Rio de Janeiro - ela diz que a mãe era "bugre", palavra que quase não se usa mais. Dela minha avó herdou as rugas, o destempero, e agora a loucura que a acomete. Do pai dela, um João Vermelho, herdou os olhos azuis. O resultado é que tive duas avós de olhos azuis. Não sei para que serve isso. E ora viva, Gasel, eis-me vivo e mais inteiro do que era de esperar. E se Apollinaire viveu trinta e oito, quem sabe eu viva quarenta? Ou até cinqüenta, vez que dispenso enrabamentos? Já a bela Natália de Andrade lembrou-me a igualmente bela, porém menos poética Clemilda (e não Cremilda), uma brazuca que canta músicas como "talco no salão, talco no salão", querendo soar como "dá o cu no salão, dá o cu no salão". Quanto ao Hopper, dele li em algum lugar que não se sabe bem se pinta a solidão ou o vazio (que consta serem coisas diferentes). Agradeço ao deus que assiste a quem me lê eu ser homem, e não menstruar, engravidar ou parir. Quanto ao parir, sei que vêem no arreganhar-se uma poesia; pelo menos aguns vêem. Eu não: vejo sangue, água, bebês sujos, bocetas arregaçadas, gritos, suor. Sei que nasci assim, mas já me esqueci. No mais, invejo a neve e os outonos desses de folhas vermelhas fazendo-se de tapete. Aqui não há disso; agora mesmo, lá fora rugem uns trinta graus. Os chuveiros têm de ficar desligados, as chuvaradas aproximam-se, eu abro uma latinha de cerveja e tento não entregar-me à modorra.


Le whisky:
Balvenie est unique dans le sens où la compagnie possède ses propres maltages et produit une grosse partie de son orge. Elle possède aussi un atelier de cuivre et une tonnellerie (qu'elle partage avec Glenfiddich), et huit alambics dont le cou est bien plus long que ceux de sa distillerie jumelle. Le whisky vieillit in situ - en partie dans du bois neuf, en partie dans des fûts de fino sherry et en partie dans des fûts d'Oloroso (ces derniers n'étant utilisés que pour la dernière année de maturation) - les deux expressions étant embouteillées dans de plus élégants flacons. La forme unique de l'éttiquette de Balvenie Classic est sensée représenter les portes du four de la distillerie.

Bebam....apesar de eu trocar o sempre o nome do maldito, ai o alzheimer galopante, é MARAVILHOSO!

Sweet as my sobrinho Miguel

A arrumar ficheiros, encontrei a letra desta canção dele. Gostei e aqui transcrevo.
Não lhe conhecia tais dotes:) Só os musicais. Nem sei se é dele mesmo ou da banda a que pertence"Bypass"


Sweet.

Sweet like buffalo beer. And like strawberry cheese.
And water on milk for the people she loves and dares to say it.
On entering a crowded room and being you the first person I’ll look for
Already knowing that you will not be here.
Because you don’t belong here.
But in a space drowned with flower water fountains, and camomile orgies.
And French modern love songs. Which is my head.
And when everyone else’s head – that, I know for sure
Is already on something like the way to keep on lying still.
While enlightened. And inflated.
That’s sweet.

Sweet on over fantasizing true moments of eternal love with the woman you met ten minutes ago.
Sweet like you Elise, and your neck.

I’ve got this doubt that longs out for an impossible calmness.
And I long for an impossible silence.
And it’s sweet like the fear that creeps in.

Just like people on cigarettes. And like people on blowing their lungs out, of blue grass white oak smoke. And just knowing how to feel good about their selves.
And just like this song, or any other song – as long as it takes this dreadful doubt out of this soul of mine.
This doubt that longs out for an impossible calmness. And I long for an impossible silence.
And this doubt…it goes on. On and on.

Just like, on spilling out livers and pulling in sweet flavours from scrap.
Sweet sweetness from scrap.
On pistol like harmonies. And water like arguments.
On sweetness and bliss.

And I’m not thinking about death at all. Nor life at all.
On spilling out livers and pulling in sweet flavours from scrap.
Sweet sweetness from scrap.
On pistol like harmonies. And water like arguments.

On sweetness and bliss.
MM ? BYpass?

8 de novembro de 2003

Ambiguidades

Calhou dar com Apollinaire. Calhou descobrir que também se dedicava ao género erótico-pornográfico. Calhou ler um extracto que achei interessante. Descreve bem a ambiguidade do ser humano: De que afinal gostava o Príncipe? O que é que, no fundo, lhe deu um completo bem estar?
Nota: O Príncipe vai ter, nessa noite, um encontro de cariz sexual com uma criatura do sexo feminino.

Assim que o convite foi aceite, o Príncipe viu as horas. Eram onze da manhã. Telefonou para mandar subir o massagista que, com desenvoltura, o massajou e enrabou. Esta sessão vivificou-o Tomou um banho e sentiu-se fresco e desperto. Chamou o cabeleireiro que, artisticamente, o penteou e enrabou. O pedicuro-manicuro subiu de imediato. Arranjou-lhe bem as unhas e enrabou-o vigoroisamente. O Príncipe sentiu, então, um completo bem-estar.

PP: Guillaume Apollinaire morreu com trinta e oito anos.

Diva do mau gosto em tons de verde

Em dias cinzentos e tristes nada melhor para recuperar o bom humor que as canções da grande diva do mau gosto, a nossa Natália de Andrade.
Ela é um bom exemplo de coisas tão más que se tornam deliciosas.
(um bocadito guinchante)
Ontem quando finalmente vi a capa do álbum dela, fiquei em perfeito êxtase, afinal não é só a voz dela que é um portento, a senhora não lhe fica atrás. (será que estou a ser cruel?)
Eis a minha diva,


Canção verde

O nosso amor é verde...
Nós somos verdes ...
Verdes,
Como são os campos e as árvores
Quando regressa a Primavera.

Verde,
É tudo quanto é belo.

Tu és verde, meu amor...
Verde, verde.
O nosso amor é verde...
... Mas não digas a ninguém!

Frio..que frio...

Hoje aproveitei o bocadinho de sol que brilhava e andei compulsivamente.
Claro que os meus passos,não sei como, foram dar a uma livrariazita e o que se pretendia uma passeata higiénica transformou-se numa sessão de carregamento de pesos.
Porque é que os livros são tão grandes e pesados? Gosto dos maneirinhos franceses da Poche. Agarram-se à mão e nela repousam. E são sempre tão bonitos...
Confesso que a livraria que invadi foi a Asa, nunca resisto às capitas deles e ao desconto de 10%...Temos sempre boas desculpas.
Mas isto não veio a propósito de nada. Foi por causa do desenho que o Gasel escreveu.
A mulher está ler, reclinada e absorta, com o quarto todo desarrumado. O livro tem um ar pesadérrimo e ela segura-o pelas bordas inferiores..que mal que soa esta frase...Depreendo que terá umas mãos imensas, com uns dedos espectaculares e particularmente persuasivos. Comigo esse livro caia a pique no chão e logo um gato solícito se deitaria em cima dele. Zás. É da minha dona.
E também por causa de livros, lembrei-me do último Reverte que li e de que gostei bastante. Últimamente andava a antipatizar com a escrita dele.
O livro, de que já esqueci o titulo, conta a história de uma Teresa, mexicana e narcotraficante. Que de empregadinha amarrotada se torna a dona de uma grande empresa de importação e exportação de droga. Que vive dois amores, morrem depressa, sabendo ela sempre que os momentos de alegria são efémeros.
E numa estadia na prisão, começa a ler...e daí não pára. Começa exactamente com um dos meus livros de infância, do Dumas.
E a certa altura interroga-se, como é que as pessoas que não gostam de ler, fazem para sobreviver à porra desta vida tão complicada? como sonham? Como descobrem mundos novos?
Eu concordo com a Teresa.
Diz o Artur Pérez Reverte que é pouco lido em Portugal. Eu acho isso um pecado, leitora apaixonada que fui dos primeiros livros dele, a começar pelo fabuloso Mestre de Esgrima (que me foi aconselhado pela minha mãe ) e felizmente reeditado em pequeno formato pela Asa há pouco tempo.
Eu escrevi fui? Agora com a leitura do "A rainha do Sul", posso dizer qual fui. Sou . E muito.
Além disso o homem é bonito que se farta.
Alguma mulher ou homem, nunca se sabe, tem muita sorte:)
Nota: Apesar da capa do livro ser feiosa, inclui uma fotografiazinha do autor:))))))

Há sol, neste sábado

Sábado, dia de trabalho!
Não muito, como estão a ver... desde há uma hora que ando por aqui, ao sabor de links e clicks. Lá fora está um sol claro, quase de Primavera, o vento é de levante e o tempo aqueceu. Está um dia extraordinário, em que nos apetece fazer alguma coisa diferente, que marque esse dia e o separe de todos os outros.
Como não faço essa coisa, vou divagar...

O post de Mim acerca do toque, e o comentário da T sobre a bondade das mulheres, lembrou-me um episódio. Há dias, estava eu em marcha-atrás num parque de estacionamento aqui perto, quando ouço aquele barulho que não engana ninguém: traaack! Na altura o que me veio, de imediato, à cabeça foi: falta aqui qualquer coisa, falta o pi-pi dos sensores... Saí do carro e lembrei-me que este não tinha os tais pi-pis, ora que porra! Olhei e vi um Clio, bastante mal estacionado, já de traseira bem amachucada por coisas antigas, na qual os meus danos se resumiam a um rachadela no farolim do pisca traseiro. Após os habituais "Que chatice... de quem é?" , lá me disseram onde estaria o dono. Fui ao escritório em frente e o dono, afinal, era uma dona. Ao ver os estragos mostrou-se muito, mesmo muito, condoída. Lá lhe tive que dar o número de telefone, outros dados e a minha total disponibilidade a pagar o farolim. Quando já tinha saido dali, pensei: É mesmo de gaja... carro mal estacionado, já todo partido, e chateia-me para lhe pagar a merda do farolim!

Numa corrida rápida pelo Arame, deparei com um post de que gostei bastante: Bye bye love, bye bye hapiness. Trouxe-me à tona uma questão que me costuma atormentar, o que será mais importante, amar ou ser amado? Isto partindo do princípio que ambas, e ao mesmo tempo, serão difíceis de acontecer. Logo acima uma observação que aplaudo: apesar de tudo, Marvão é melhor que Óbidos.

Passado um bocadinho, e por intermédio do Homem-a-dias, fui dar com um artigo da Ana Sá Lopes (que se não me engano é a minha heroina do Melhor do Mundo). Não resisto a transcrever um pouco:
"...Pinto da Costa continuará a saga de procurar submeter o poder político ao seu poder pessoal enquanto não se multiplicarem comportamentos políticos como os de Rui Rio e os de Mota Amaral. Com a afronta feita ao presidente da Câmara do Porto e ao presidente do Parlamento, o Presidente da República e o primeiro-ministro deviam ter uma palavra a dizer. Infelizmente, o mais provável é que, com mais ou menos desabafos privados, acabem sentados no camarote do "mullah" do Norte a dar vivas ao Porto e a quem o apoiar."
Acho que "mullah" lhe assenta muito bem, bem melhor que "Papa".

No seguimento da viagem, aterrei no Jaquinzinhos, que parece que é algarvio (azar!). Admira-se e faz notar a, "notável", posição da Quercus "contra" o TGV, por induzir mais tráfego paralelo e, consequentemente, mais poluição. Notável de facto... o que é preciso é "criar" uma tese, "arranjar" dados que a suportem e "sacar" um bom título de jornal!

Por último, o Barnabé, insurge-se contra a falta de insensibilidade social dos que pensam que a luta dos estudantes é demagógica e desajustada.
A mim o que me desagrada-me é esta pseudo-consciência social. Afinal haverá algo a pagar, não? Alguma propina deverá ser paga, não? É só uma questão de saber qual o valor justo, não? Senão caimos na demagogia de protestar, por exemplo, contra os custos da net: que seja de borla, para os filhos dos pobres poderem blogar!
Só me admira é que estes mesmos estudantes, que tanto se indignam com 800 Euros/ano, se puderem vão logo a correr para uma qualquer pós-graduação no estrangeiro. E aí pagam contentes, arranjam bolsas, o que for... deve ser para se passar para "o outro lado".

Chega... chamam-me algures.
Ouvi dizer que o Cunhal escreveu um artigo. Incrivel! Só ele e o Papa...